quarta-feira, 22 de agosto de 2012
[o mato em lisboa #9] fintar a burocracia
(continuando a história do Lázaro...)
Foi então que percebemos o que estava a bloquear a vinda do irmão do Lázaro de Angola para Portugal para lhe doar medula óssea. Até aí tudo nos tinha passado pela cabeça... A embaixada garantia que não havia problema nenhum, mas não tinha conhecimento de nada. Ainda nem sequer tinha sido formalizado o pedido do visto da criança. Seria então a família que estava a bloquear o processo? Será que o pai não podia ou não queria acompanhar o filho a Portugal? Será que pensavam que o procedimento podia pôr em risco a vida do irmão? Pensariam que o menino podia ficar sem ossos ou "contaminado" com a mesma doença?
Não, não era nada disso. O problema era muito mais simples, mas praticamente intransponível: o passaporte não tinha sido emitido porque o pai não tinha apresentado nenhum documento da Junta Médica dizendo que o menino precisava de vir. E a Junta Médica não emitia esse documento sem o passaporte. Ah, a burocracia no seu melhor!
Mas o missionário amigo da minha querida M., habituadíssimo a estes assados, no mesmo dia engendrou a solução: tínhamos de ser nós a emitir um documento a atestar a necessidade premente de enviar o Lito-aliás-Alexandre o mais rápido possível para Portugal.
Pronto, se era esse o problema, era para já! Documento nós fôssemos, que já lá estávamos! Escrevi o texto mais assertivo da minha vida (só faltou mencionar que o meu pai era o dono daquilo tudo) e enviámos o documento por mail no mesmo minuto.
Horas depois vinha a resposta: não, o documento não estava em conformidade! A pessoa que assinava não tinha título, não estava lá escrito que era director de nada e nestas coisas é sempre preciso um director. Não tinha carimbos suficientes nem selos bastantes. Podia ser verdadeiro mas, aos olhos da máquina burocrática, não era credível. Não passaria! Claro, mas que cabeça a nossa... Pedimos à secretária da enfermaria para carimbar o documento com tudo o que tivesse à mão (até os carimbos do centro de custo foram naquele documento!), digitalizámo-lo e enviámo-lo.
Agora estava tudo certo, respondia o Sr. Padre! Agora achava que sim, que já passaria. Pouco dias depois, o passaporte estava emitido.
Faltava a Junta Médica...
(continua...)
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