Serviço de Urgência, noite de Santo António. Uma adolescente de 15 anos, natural de Cabo Verde, residente em Lisboa há poucos meses, com um ar estremunhado de quem acabou de acordar de um sono desconfortável nas cadeiras de plástico da sala de espera e com cara de deixem-me-em-paz-que-não-sei-o-que-estou-aqui-a-fazer-eu-nem-sou-de-cá-só-cá-vim-ver-a-bola, acompanhada por sua mãe, uma mulher enorme e irritável, claramente impaciente por estar parada e há tanto tempo à espera.
- Então o que a traz aqui? - pergunta uma colega minha. [Pergunta retórica, que obviamente já tinha lido o relatório da triagem e feito o diagnóstico.]
- Tem febiri e angina.
- Está bem, vamos vê-la...
[A adolescente dirige-se para a marquesa e começa a despir-se lentamente, como quem pensa distraídamente sobre a vida. A mãe, impaciente, rosna-lhe que se despache, que ainda há muito que fazer nesse dia.]
- Mas, mãe, a menina está muito pálida... Tem uma anemia grave de certeza. Ela não tem andado mais cansada ou mais parada nos últimos tempos?
- Ah, Doutora, ela é muito divagarosa...
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