quinta-feira, 5 de maio de 2011

[a tale of three cities] o táxi e o chapa


I love New York, I'd live in Paris but...
Mozambique is eco friendly!

Já em tempos vos falei dele... do chapa. O chapa é o ubíquo e famosíssimo meio de transporte moçambicano, cartão de visita do país e já várias vezes considerado o paradigma do espírito moçambicano (uma vez vi um chapa que se chamava, precisamente Welcome to Mozambique, mas geralmente têm nomes mais improváveis, como Uma mão lava a outra, Siga-me, Inveja mata e outras pérolas do género...). Dentro destas carrinhas de nove lugares cabe um número inconstante de pessoas, dependendo do conceito de lebensraum do dono (no máximo de alguns centímetros quadrados) e das dimensões e natureza da carga (que pode variar de exclusivamente composta por pessoas até ovinos e galináceos vivos em coexistência pacífica com os restantes passageiros, que se encarregam de os manter vivos até à chegada. Bem... quando morrem pelo caminho também nunca vi ninguém preocupar-se muito: "Se morrer come-se!", parece ser o lema...).

Segundo a lei, os chapas podem transportar até 15 pessoas, mas nunca começam a andar com menos de 20, pelo que os atrasos são constantes porque é preciso esperar que cheguem passageiros suficientes. Certa vez, um amigo meu contou-me, quase incrédulo, que tinha sido literalmente "vendido" a outro chapa em plena viagem, porque aquele onde seguia levava apenas 10 pessoas e o dono achou que a viagem não era rentável naquelas condições!

Geralmente para sobreviver a uma viagem de várias horas de chapa são precisos:

a) Um estômago forte (em alternativa, uma rinite crónica ou uma febre dos fenos aguda, que tire mais de 90% do olfacto ou ainda, a alternativa mais improvável, um fetiche muito particular com o cheiro a catinga associado ao cheiro a animais domésticos).

b) Dois cromossomas X*, sem os quais provavelmente ninguém terá a delicadeza de nos deixar viajar na cabine, onde habitualmente o conceito de espaço vital do dono é preterido em favor do conceito do motorista de esta-gaja-tem-de-se-chegar-para-lá-para-eu-conseguir-meter-as-mudanças!

c) Uma grande flexibilidade e resistência física, senão corremos o sério risco de desejar ficar em qualquer sítio próximo de onde Judas perdeu as botas, seja lá onde isso for... De facto, depois de oito horas de solavancos num chapa já ninguém se importa muito com Judas, quanto mais com o misterioso facto de ele ter perdido as botas. Aliás, com este calor, se não as tivesse perdido, provavelmente até já as tinha atirado borda fora!.

d) Um dia de antecedência em relação aos nossos compromissos no local de destino, para qualquer imprevisto ou para poder ficar de molho, caso a nossa resistência física provar não ser tão elevada quanto pensávamos, que isto já se sabe: Áfrrica... não é parra todos...

*Ser mulher 

2 comentários:

  1. Ahahahahahah! No coments! Lindooooooooooo!
    Na verdade, e por ser assim mesmo, eu ainda não me atrevi, basta-me tentar ser atropelada por eles todos os dias enquanto dou gás às sandálias... Que isso de botas não é de todo para Àfrica!

    Ah! Obrigada pela informação, tomei nota e depois dou notícias quando for visitar! ;D

    Beijos grandes da cidade das acácias!

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  2. [voz off] Sim, na melhor das hipóteses vai gostar mesmo muito, é uma delícia... Na pior vai apaixonar-se e volta lá recorrentemente... ;)

    Já tenho falado ocasionalmente deles e tenho um ou dois tags ali na coluna da direita.

    (um) beijo de mulata com saudades das acácias

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