(continuando...)
- O Sr. prescreveu o antibiótico X ao menino que acabou de ser internado.
- Sim, Doutora.
- Mas tem esse antibiótico aqui?
[Sem pestanejar...] - Não, o antibiótico X... infelizmente não temos há mais de duas semanas.
- Ah, mas então porque prescreveu o antibiótico X se não existe?
- É o antibiótico indicado.
[Oh, valha-me Santa Rita de Cássia, que isto não pode estar a acontecer...] - Mas o antibiótico Y também serve para a mesma doença.
[Pensativo...] - O antibiótico Y temos!
[Mas será que não ligou mesmo nada ao que estava a fazer? Não podia estar preocupado com a criança quando a internou com uma doença grave para fazer um tratamento que sabia que não existia... Será falta de inteligência? Desprezo? Puro desinteresse?] - Sim, eu sei que temos o antibiótico Y. É por isso que o doente fulano e o doente sicrano na enfermaria estão medicados com ele e não com o medicamento X.
E não, já não me iludia. Já não acreditava que poderia valer a pena enfurecer-me por dentro mas manter uma calma aparente para levar o técnico a prescrever o medicamento certo. Da vez seguinte era necessário ir ver novamente que medicamento tinha sido prescrito e chamar-lhe a atenção outra vez. Sempre com a mesma cara. Sempre com o mesmo sorriso. Dez minutos depois, se fosse necessário.
- Esqueceu de lembrar...
- Ah, mas é melhor corrigir e prescrever o medicamento Y, porque o medicamento X não tem há mais de duas semanas...
De nada me valeria gritar ou zangar-me, não ia obter mais colaboração por isso. Pelo contrário. A resistência passiva é o apanágio de quase todo o povo. Passariam a dizer que "Sim, sim, hei-de fazer.", sem qualquer intenção de fazer o que quer que fosse. É preciso respirar fundo e ter calma. Não perder o optimismo. O meu objectivo é ganhar a guerra, não posso desorientar-me em pequenas batalhas... O que é preciso é que os meninos melhorem, é essa a única coisa importante. Se para isso for preciso ir quatro vezes por dia à cama de cada menino verificar se lhe foi dada a medicação, então irei quatro vezes por dia à cama de cada menino verificar se lhe foi dada a medicação. Se me zangar isso só vai funcionar da primeira vez. Para a próxima, na melhor das hipóteses, começam a evitar-me. E ainda assim, sabe Deus como me posso tornar incómoda...
(continua...)
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