sexta-feira, 23 de junho de 2017

[que farei quando tudo arde?] a minha amiga catarina


A minha amiga Catarina em cima do telhado, rodeada pelas chamas...
(Foto daqui)

Tenho estado à espera que ela nos conte como foi. Como foi que sobreviveu a todo aquele capítulo mais horrível da Divina Comédia. O que a fez nunca voltar costas à luta e, no princípio, meio e fim manter o sentido de humor, a compostura, o sangue-frio, a preocupação em dar notícias e o antirrugas. Uma mulher Chanel nunca se atrapalha, que uma mulher atrapalhada é pior que um anestesista bêbado. E mais inflamável.

Tenho uma amiga que esteve encurralada pelo fogo em Castanheira de Pera. Uma amiga que me fez chorar desesperada e rezar por um milagre durante mais de 12 horas. Não vejam isto como uma força de expressão. Eu não costumo rezar por milagres. Mesmo nos milagres a que já assisti (verdadeiros e inexplicáveis para mim, que sou uma mulher de ciência, acho que vi um - um e meio, vá, já vos falei sobre isto), não rezei por um milagre. Foi mesmo o desespero, a impotência e a incredulidade que me fez rezar pelo que não se pode pedir. E fazer refresh de minuto a minuto na sua página do facebook à espera do notícias, enquanto via apenas os apelos de outros amigos por notícias. Porque as ligações estiveram interrompidas durante horas!

No sábado o meu marido chegou a casa e eu estava deitada a chorar. E como é que lhe ia explicar ou sequer admitir a vergonhosa circunstância de que a pessoa por quem chorava não era sequer minha conhecida? Não a conheço pessoalmente, mas é minha amiga! Conheci-a aqui neste mato! Somos amigas e apaixonadas por Moçambique. Acabei por fazer uma promessa a Santa Escolástica (achei que Santa Bárbara e todos os outros milagreiros das catástrofes estariam assoberbados), que espero que ela agora me ajude a cumprir. Mas estava longe de imaginar como foi. O desespero de ter de proteger os seus sozinha, com uma mangueira em cima de um telhado, cercada pelo fogo que consumia as suas memórias de infância e a tranquilidade de ter uma casa segura onde criar raízes, quase sem meios e sem saber com quem contar. E no fim fazer-me rir a dizer que foi como a peça de Tennessee Williams, Gata em Telhado de Zinco Quente. Mas com sérum e antirrugas.

Espero que ainda nos conte como foi. E sei que um dia vai fazer qualquer coisa maior com isto que aconteceu, como é seu habitual. Coragem, Catarina! E obrigada por continuares por cá!

[Não sou silvicultora de bancada. Tenho muitas dúvidas e uma grande mágoa. Espero que algumas respostas venham a ser dadas por fim. Não tenho mais nada a dizer porque genuinamente não sei e não posso. Só posso ajudar no que está ao meu alcance...]

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