sexta-feira, 21 de junho de 2013

[outras palavras] febre... pois...



Mitande, Niassa

A minha amiga Maria está desde Janeiro deste ano em Mitande, no Niassa (no norte de Moçambique), em missão de voluntariado através da ONG de que orgulhosamente faço parte... É enfermeira, tem um espírito prático e aventureiro como poucas pessoas têm e escreve deliciosamente! A propósito do post anterior sobre o conceito de febre na Guiné-Bissau, lembrei-me deste post dela, no Querida Lamparina:

No outro dia assisti à seguinte consulta de um jovem estudante no Centro de Saúde:
- Preciso de medicamento para malária.
- Como sabes que tens malária?
- Sinto uma malária muito forte.
- Mas o que sentes?
- Dói-me o corpo todo.
- E tens tido frio? [ter frio = febre]
- Não, só tenho uma malária que me faz doer o corpo todo. [e, baixinho, acrescenta] e comichão.
- Comichão onde?
- Aqui - diz rapidamente, sem apontar para sitio nenhum -, preciso de medicamento para a malária. Tenho malária muito grande.
- Comichão onde, mesmo?
- Aqui.

[Na realidade o que o moço tinha era uma infeção sexualmente transmissível...]
Para evitar estas coisas de culpar a Malária de todos os males, resolvi dar uma “aula” às minhas meninas acerca de febre.
- Sabem o que e isto?
- Um termómetro.
- E para que serve?
- Para saber se pessoa está doente. Por debaixo do braço, esperar e depois ler se está muito doente ou pouco doente.

Lá expliquei o que é um termómetro e o conceito de temperatura e de febre. Esforcei-me por deixar bem claro que febre não significa malária necessariamente: afinal era esse o meu objectivo com estas explicações todas. Sugeri que experimentassem colocar o termómetro, a mais pequena não quis, tinha medo que se descobrisse alguma doença, mas a mais velha, mais corajosa, colocou o tal aparelho na axila. “Tem 36,5ºC. Não está doente!”
- Então vamos ver na B.
- Tenho 39,2ºC...
- O que significa?
- Tem malária!
[Definitivamente não sou boa professora...]

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