sábado, 6 de agosto de 2011

[fugazmente, no verão passado...] mavalane

Há alguns dias reencontrei uma pessoa que conheci fugazmente no aeroporto de Mavalane, em Maputo, no verão passado. Há exactamente um ano, curiosamente. Conheci-o porque ele tinha tido um contratempo com um voo para a Tanzânia. Uma daquelas improbabilidades que só acontecem em Moçambique... E por favor não me digam que é exagero. Isto é apenas um blog, não é jornalismo de investigação e eu gosto de falar do meu país do coração como absolutamente único em tudo... Don't ask, meus amigos, and don't judge, respeitem quem sofre profundamente todos os dias por não estar lá!

Eu própria também já tive contratempos com voos em Maputo, como sabem - ou se não sabem basta darem-se ao trabalho de ir ler um post ligeiramente mais abaixo -, mas claro, se isto me aconteceu é apenas porque sou loira e há coisas que dou como garantidas... nada que se compare com este episódio...

Ele tinha conseguido o voo perfeito. Podia trabalhar no dia da partida, descolava de Maputo às 21:00 e assim podia apanhar em Dar es Salaam o voo das 02:00 para Nairobi, dormia na viagem e, no dia seguinte, fresco e retemperado por quatro horas de sono, estaria pronto para trabalhar novamente no Quénia.

Estava tudo programado. Ele era um homem experiente neste mundo a sul do equador. E um homem experiente nestas lides de voos e ligações meridionais sabe que deve chegar ao aeroporto com duas horas de antecedência para dar margem aos imprevistos. Sabe que não deve ficar em filas sem saber o que se passa do outro lado do balcão. Sabe que se transportar objectos de valor ou artísticos se deve fazer acompanhar por uma autorização de exportação (em alternativa poderá levar um acompanhante alto e entroncado, de preferência com a barba por fazer e olhar um pouco vago, assim a raiar o psicótico... mas um homem independente e recto prefere papéis em ordem!). Conhece os seus direitos e os locais onde pode reclamar caso alguma coisa corra mal. Sabe que se lhe negarem lugar no voo pode sempre usar a sua voz mais grossa e afirmar "O problema é seu, não é meu, o senhor é que tem de resolver a situação! Ou precisa que lhe explique com quem é que está a falar?" Sim, porque um homem informado não aceita um não como resposta! Mas sabe ainda que, em qualquer circunstância, tem de deixar assegurada uma reserva eventual para mais uma noite para o caso de tudo isto falhar. Um homem experiente sabe que, abaixo do equador, nada é absolutamente garantido e que à última da hora o destino lhe pode sempre pregar uma rasteira.

O que ele não sabia, meus amigos, é que podia chegar ao aeroporto e dar de caras com um edifício-fantasma. Luzes apagadas, silêncio absoluto, um deserto autêntico, à excepção de um guarda dormitando encostado a uma porta. Sem qualquer movimento. Sem sinal de que poderia a qualquer momento chegar ou descolar um avião. Sem um aviso em qualquer parede. Pois é, meus amigos, um homem experiente deu de caras com um aeroporto internacional fechado. Tinha comprado um bilhete nas Linhas Aéreas de Moçambique para um voo que já não existia. Tinha sido anulado pura e simplesmente. De forma unilateral.

E foi assim que um homem experiente voltou nessa noite para trás. Porque sabia mexer-se como ninguém naquele mundo, mas esse mundo nessa noite estava encerrado.

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