quinta-feira, 19 de maio de 2011

[the pests of three cities] na sua casa de banho


O que é o pior que pode encontrar na sua casa de banho?

Depois das reacções de várias famílias totalmente horrorizadas sobre a minha simpática companheira de quarto, a Amélia, que zelava pela minha saúde preservando o meu sangue livre de Plasmodia da malária, comecei a pensar que este post se calhar deveria levar bolinha no canto superior direito...

Mas... bem, meus queridos amigos, como diria o Sr. Pompisk: África não é para meninos!

Em Milevane, após um dia lindo, lindo, fui tomar banho e, como sempre, antes de me despir inspeccionei cuidadosamente todas as paredes e o chão da casa de banho - sim, que pior do que um encontro imediato de terceiro grau no duche, só mesmo a triste figura de uma loira encharcada e desnuda a gritar pelo corredor de um convento, sob o olhar quase apocalíptico de padres e freiras... Já quase despida dei de caras com um escorpião que trepava pacatamente pela parede mais recôndita do duche. Mas de onde é que ele teria saído, valesse-me Santa Rita de Cássia. Meu Deus, porque sois tão bom? Tenho muita pena, mas vou cometer um crime... Peguei no chinelo e em menos de um segundo havia mais uma escorpiã viúva no convento... O problema foi que de imediato me assaltou a ideia peregrina de que os escorpiões poderiam ser como as cobras cuspideiras e andar sempre aos pares. Mas depois de uns bons minutos de rabo para o ar à procura do buraco de onde o falecido poderia ter saído e onde poderia estar escondida a sua fiel viúva [quer dizer, quase de certeza fiel, que na viúva de um escorpião nunca se confia, mas assim como assim não teriam passado mais de cinco minutos e, a menos que estivesse outro escorpião no buraco, poderíamos presumir com quase toda a certeza que ela ainda lhe seria fiel...], acabei por me vestir e fui acordar a Irmã Lurdes, que já dormia a sono solto no quarto ao lado do meu:

- Irmã, os escorpiões costumam andar aos pares? - perguntei do lado de fora da porta.
- Não, não necessariamente... - foi a resposta [quase que podia ver a cara de pasmo estremunhado].
- Obrigada e desculpe... Boa noite. Durma bem.
- Sim, dorme bem também. [Uma santa! Não tenho dúvidas de que vai ser santa.]

Já no Gilé, o problema eram os sapos. Eu e a R. quase nos convencemos de que nos tinham lançado um feitiço... Todas as noites, quer na minha casa de banho quer na da R. aparecia invariavelmente um sapo e tínhamos de chamar alguém para o ir enxotar para a rua. Chegámos mesmo a pensar em ir buscar à socapa um curandeiro para quebrar o feitiço dos sapos, já que não estávamos interessadas em nenhum príncipe que nos aparecesse durante o banho - convenhamos que não era um bom princípio para qualquer relação, quanto mais para um casamento... Mas a lembrança do flop absoluto com o curandeiro de Nahavara não nos deixou prosseguir. E também nunca poderíamos explicar à Irmã Lurdes por que raio é que queríamos levar um curandeiro para o nosso quarto. Portanto, lá me rendi à evidência de que os sapos nos haveriam de acompanhar durante a estadia no Gilé e lá mais para o final, apanhei-lhe o jeito e já era eu quem pegava na pá e na vassoura e os fazia saltar à minha frente até à rua. Só não os conduzia até aos charcos porque confiava cegamente na sapiência dos sapos para os encontrar rapidamente [quase que juraria que a palavra sapiência vem de sapo, tal era o engenho com que encontravam o caminho para dentro do meu balde].

Quanto à história da cobra cuspideira e da centopeia, o melhor é nem falar. Em resumo, meus amores, a regra em África é: nunca se dispam sem ter a certeza de que estão sozinhos!

13 comentários:

  1. concordo...tenho uma enorme vontade de conhecer Africa...e se depois de teres encontrado ratos em Nova Iorque quem não aguenta sapos em Moçambique????

    ResponderEliminar
  2. Claro, sapos é peanuts!
    (um) beijo de mulata

    ResponderEliminar
  3. Querida BdM,
    Eu em Raleigh, na Carolina Norte, foi mais baratas, em Blacksburg, Virginia, foi mais ratos, e agora em Phoenix, Arizona, é mais escorpiões. Como te compreendo...
    Não sei como são os da Zambézia, mas os daqui, os Centruroides sculpturatus, são os mais venenosos da América do Norte, veneno este que, ouvi dizer, causa dores lancinantes e dormência. É à custa disto que o meu marido e eu os caçamos, de luz ultra-violeta em riste, mas isso são estórias para o meu blog, passe a publicidade. Ainda esta semana fizemos quatro viúvos ou viúvas, que nisto dos escorpiões eu não meto a colher.

    ResponderEliminar
  4. Cá na cidade das acácias ainda não tive nenhum encontro imediato de terceiro grau, pelo menos com bichos... volta e meia andam pela casa umas lagartixas (que eu não sei se são osgas bebés) e uns grilos que eu amorosamente apanho e encaminho até ao jardim, para que eles não encontrem na minha roupa uma cama cheirosa e fofa...
    Mas confesso que adoraria ter uma osga chamada Olga, porque já não suporto o cheiro a repelente! Nunca sei se é melhor ter malária ou morrer intoxicada pela porcaria dos repelentes!
    E as osgas são tão giras e ficam tão bem num tecto de uma casa... dá sempre um certo ar... exótico!

    Ah! e eu também detesto fazer viuv@s, mesmo no reino dos mosquitos!

    Beijos da cidade das acácias.

    ResponderEliminar
  5. Para meu futuro descanso, diz-me que isso não acontece nas cidades.
    Este é um livre passe para mentiras, por favor - tudo menos a cobra.

    ResponderEliminar
  6. Moo, por favor explique à Ruiva que, com os mosquitos, ela faz invariavelmente viúvOS, só ELAS é que nos chupam, os machOS são todos vegetarianos. Quanto aos escorpiões, bicho por quem sempre nutri uma atracção, nunca andam aos pares, coisa que aprendi por intensa experiência própria em Portugal. Do seu sexo nunca soube distinguir, pois andam todos invariavelmente erectos...

    ResponderEliminar
  7. Bê, minha querida, essa da caça ao escorpião com luz ultravioleta deixou-me totalmente arrumada! Estou fascinada... Ponha aqui o link, se quiser, que tenho a certeza de que vou aprender muito.

    Eu era mesmo a olho nu e de corpo vestido!

    ResponderEliminar
  8. Ruiva, que nome delicioso para uma osga exótica ;)

    ResponderEliminar
  9. Querida BdM,
    Então, com a sua benção, aqui fica o link para o post com a mais recente caçada, motivado, aliás, por este texto: http://euemaisbolachas.blogspot.com/2011/05/escorpioes-o-derby.html
    Este texto resume alguns factos sobre os escorpiões do Arizona: http://euemaisbolachas.blogspot.com/2011/03/esta-aberta-saison.html
    Finalmente, este texto mostra o Marvin, um escorpião que capturámos e que agora mora com o Alex: http://euemaisbolachas.blogspot.com/2011/03/um-escorpiao-menos.html
    Um sorriso!

    ResponderEliminar
  10. Muito obrigada, Bê!

    Entretanto não esperei pelos links e fui eu própria explorar o seu blog. Devo dizer que me fartei de rir e que fiquei fã incondicional da sua lanterninha de luz UV. Para além de muito útil deve dar um ar sofisticadíssimo ao acto de tomar banho na savana! Na minha próxima viagem ao país dos montes claros vai comigo na bagagem juntamente com um grande rolo de fita-cola (sim, que nada me escapou!). Assim escusa uma loira de ficar de rabo para o ar à procura de escorpiões.

    E para as cobras não tem nenhuma técnica fantástica?

    ResponderEliminar
  11. Ângela, obviamente que isto não acontece na cidade! Só na savana e, ainda assim, se lhe apetecer ir dar uns mergulhinhos ao Bilene ou ao Bazaruto pode sempre fazer como a Bê e mandar o marido à frente com uma lanterninha UV e um death pole com fita cola.

    Mas em Maputo não há disto, a própria ruiva o testemunha no seu comentário!

    (um) beijo de mulata

    ResponderEliminar
  12. BdM,
    Para as cobras: fugir (a sete pés).
    Um sorriso!

    ResponderEliminar