quarta-feira, 13 de julho de 2011

[das coisas que me angustiam...] por este mundo

Campo de Refugiados de Maratane
(Nampula, Moçambique)

Quando tinha 18 anos, durante um interRail, passámos por Cracóvia e decidimos que tínhamos de ir visitar o antigo campo de concentração de Auschwitz... Foi uma viagem difícil de fazer porque nada estava traduzido, era necessário mudar de comboio de linha regional no meio de um apeadeiro num descampado e, à saída da estação de comboios também nada estava indicado e andámos a pé quase uma hora até termos a certeza de estávamos no caminho certo... Outra coisa de que me recordo foi o impacto que Auschwitz teve em mim, depois daquela jornada meia perdida e desamparada pelo meio de nenhures. Obviamente sabia ao que ia. Já tinha visto dezenas de documentários sobre um dos piores campos de concentração da segunda guerra mundial, mas não estava à espera daquele arrepio ao ler o irónico Arbeit Macht Frei da entrada e de uma crueldade daquelas ali diante dos meus olhos, de uma memória tão viva e uma ferida tão aberta.

Uma das coisas que me lembro de comentar na altura foi que tinha chegado à conclusão de que não estava preparada. Que ninguém podia estar preparado para um impacto daqueles, foi a minha frase ao final do dia. Um mês depois entrei na faculdade para estudar Medicina. Mal sabia eu que anos depois haveria de trabalhar num campo de refugiados em Nampula. Comparado com Maratane, o campo de Auschwitz, já desactivado e sem ninguém, era uma fotografia para assustar meninos. E o pior de tudo é que sei que há campos de refugiados dez mil vezes piores do que aquele... E quando digo dez mil vezes piores quero mesmo dizer dez mil vezes. Às vezes não sei o que pensar quando leio notícias destas...

2 comentários:

  1. De Auschwitz o que mais me impressionou foi o silêncio absoluto, de todos os visitantes, até dos adolescentes... Mas sobretudo a ausência total de aves!
    Dos campos de refugiados... Bem, nem tenho palavras e acho que também não estou preparada para ir ao de Maratane (quanto mais aos outros), apesar de já me terem convidado a acompanhar uma irmã...
    O sofrimento é atroz!...

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  2. A Humanidade cai tantas vezes no mesmo erro, que às vezes questiono-me se algum dia vamos aprender...

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