Não sei que formação têm as pessoas que verbalizaram coisas deste calibre... Com boa intenção, claro, não duvido, quase que para se consolarem e defenderem da catástrofe emocional que é saber que uma criança foi abandonada segunda vez. Mas a noção de que as experiências dos primeiros anos de vida são incrivelmente importantes e ficam gravadas a fogo na memória e no inconsciente tem mais de 100 anos e é irrefutável! Não por ser freudiana, mas por ser verdadeira.
Posso até provar-vos: O baby-de-mulata tinha 16 meses no dia em que chegou a casa e lhe nasceu uma mãe (para mim ele já tinha nascido antes, mas acho que nos adotamos verdadeiramente um ao outro nesse dia). Contei-vos a história há poucos dias. Pois que há quase dois anos, um dia, depois de um passeio no jardim chegamos a casa e ele disse-me:
- Mamã, pega-me ao colo...
E já no meu colo:
- Mãe, agora a fingir que eu tinha chegado de muito longe e tu me ias mostrar a casa...
E ao meu colo, conseguiu reproduzir a sequência com que lhe mostrei a sua nova casa no momento em que chegamos. E mais, por fim quis ir para a sala, pegou num livro e pediu-me para lho ler. No mesmo local onde lhe mostrei o álbum de fotografias de família...
E eu, que sabia de tudo, quase não consegui deixar de me emocionar e de me espantar. Os bebés guardam memória dos dias importantes. Por mais que não lhes consigam atribuir um significado. Por isso não lhes podemos falhar tão redondamente!
Então (e, por favor, não leves a mal o meu comentário!), não te preocupam as memórias tão difíceis que o teu bebé-de-mulata teve de enfrentar até "te adotar"? a depressão de primeira infância, os vários abandonos, etc - achas que a vinculação segura que estabeleceu depois o vai libertar de todos esses fantasmas? (sei que, mesmo que eles não desapareçam, estarás aí para o que der e vier :) )
ResponderEliminarClaro que preocupa. E muito! Mas por enquanto ele está mesmo muito bem, muito seguro e muito feliz. Já deixou ha muito tempo de ter medo de monstros e fantasmas. Por enquanto não tenho sinais de que a doença grave que ele teve lhe esteja a fazer mossa. Cá estarei para o ajudar se for necessário...
Eliminar(um) beijo de mulata
Incrível. Eu emociono-me sempre a ler estas coisas. E (ainda, espero) não sou mãe e nao está planeado ser nos próximos anos. Acho que vou morrer no dia em que me nascer um filho. (Enquanto as minhas amigas querem muito ser mães e "já", eu penso sempre sempre que sou demasiado frágil para ser mãe. Se choro a ler todo e qualquer relato seja bom ou mau da maternidade. Às vezes parece que sei que vou viver para sempre angustiada por saber que vou "amar demais" os meus filhos. É de uma responsabilidade tão grande de "criar uma pessoa".).
ResponderEliminarBeijinhos.