terça-feira, 6 de agosto de 2013

[baby-de-mulata] ainda não foi desta...



Pois é, meus amigos, ainda não foi desta... (Erguer de olhos para o céu, um suspiro.) Hoje levantei-me decidida! Haveria de ser desta, caramba, que um dia tem de chegar a minha vez, valha-me Deus e São Jerónimo, padroeiro das escriturárias (ou apenas das sagradas escrituras, mas os santos também podem ser padroeiros de outros departamentos que se prestem a confusão fonética, ou não? Pois... se calhar não, mas enfim, eu tinha fé!). E a minha vez haveria de ser hoje, eu sabia, sentia-o nos meus ossos (fica melhor em inglês, mas nós aqui no mato não falamos estrangeiro, que não nos fazemos de importantes). Macacos me mordessem se não seria a minha hora de interpretar o papel vencedor contra a burocracia dos papéis! Já vos falei da minha saga. Queremos ir viajar mas não podemos porque ainda nos falta o cartão de cidadão. Já está quase, eu sei. Já faltou muito, mas muito mais. Mas ainda não está, canário!

Então hoje lá fui novamente ao Instituto dos Registos e Notariado. Certidão de curadoria do baby: check! Assento de nascimento: check! Sentença de adoção plena e respetiva referência do processo do Tribunal de Família e Menores: check! Tempo suficiente decorrido após a sentença de adoção para o trânsito em julgado*: check! A minha identificação pessoal: check! Dinheiro trocado para o parquímetro: check! Livro para estudar na sala de espera: check!

E lá fui. "Olhe, se faz favor, passa-se isto assim e assim, a modos que eu venho aqui solicitar a emissão de um novo assento de nacimento para o baby-de-mulata". Após o que a senhora consultou uns documentos e me respondeu que isso era totalmente impossível. Ainda faltava o averbamento e sem isso nada feito. "Mas qual averbamento, minha senhora?" "O averbamento da sentença de adoção." "Mas disseram-me que o processo já transitou em julgado." "Sim, mas falta o averbamento, sem isso nada feito." "Então o que é que eu posso fazer?" "Bem, sem quiser mesmo saber o que se passa pode ir ali ao terceiro andar falar com a minha colega dos averbamentos." "Está bem!"

Fui ao terceiro andar. Entrei numa porta onde não dizia "Averbamentos", mas dizia "Entrada exclusiva para funcionários." e pensei: "Bem, deve ser aqui..."

E então a tal colega que sabia de averbamentos comunicou-me que nada tinha para averbar naquele momento e que, portanto, se a sentença ainda não estava averbada é porque ou o processo ainda não tinha transitado ou então o averbamento ainda não tinha chegado. Nada a fazer! "Então?", perguntei já conformada, "O que posso eu fazer?" "Nada, dê-lhe mais um mês, que o averbamento já deve estar pronto nessa altura!"

E pronto, nada a fazer! Sem averbamento não há documento. Ainda não foi desta! Mas para o mês que vem é que é, garanto-vos! Vou dar-lhe mais um mês, como a senhora dos averbamentos me prescreveu. Para que se ainda houver alguma coisa para transitar, que transite definitivamente e para que tudo o que houver para averbar, se averbe de uma vez por todas, que a verve já me falha e o sangue me ferve e, a bem dizer, eu não queria nada estar aqui a escrever isto, nem a fazer trocadilhos, queria estar aqui vitoriosa... Mas a nossa hora há de chegar. Ou eu não me chame beijo-de-mulata!

* Neste mato empregamos termos jurídicos para mostrarmos como somos cidadãos informados e assim passarmos a completa noção de que se os documentos ainda não foram emitidos, isso é da exclusiva responsabilidade da burocracia do sistema.

6 comentários:

  1. És uma simpatia e tens uma paciência de santa :) Eu já tinha chamado o colega/chefe da colega dos averbamentos (o averbamento ainda não chegou porquê?) ou pedia para 'averbar' no livro de reclamações... dizem que a simples menção desse livro ajuda à resolução de muitos problemas!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Infelizmente não havia mesmo nada a fazer. Apenas esperar que a comunicação para averbar chegue do tribunal, que está a banhos (as férias judiciais são uma instituição!). Mas obrigada pela solidariedade!

      (um) beijo de mulata

      Eliminar
  2. Meu Deus, há dias tive de traduzir (o meu trabalho te destas coisas) páginas e páginas de averbamentos, que era coisa estrangeira e esquisitóide para mim em ambas as línguas que me deram por maternas...I felt it in my bones, allright!

    ResponderEliminar
  3. Pois, a burocracia é tramada. Aliando também a desorganização ou sei lá que mais dá nestas coisas...
    Eu não quero ser pessimista nem ser velho do Restelo, mas conheço um caso semelhante. Uma amiga minha adoptou uma criança que foi para casa dela em Março. Em Dezembro ela ia viajar(com marido, filhos, cunhados,...) e quase nas vésperas da viagem ela estava stressadíssima pois ainda não tinha toda a documentação da criança. Teve de andar ela (ou o marido) a ir ao tribunal imensas vezes, a irem ao tal departamento no andar de cima (pois parece que os papéis para subirem de andar levam semanas ou meses!) e depois de grande stress lá conseguiu toda a documentação na véspera da viagem...

    Espero que daqui a um mês a situação esteja mesmo resolvida. Senão, pelo que percebi destas situações, é mesmo preciso fazer um bocado de "peixeirada"...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois, eu ainda não marquei viagem nenhuma já por causa desses stresses, e estou confiante de que tudo se há de resolver rapidamente, mas claro que se passar para lá do razoável (e das férias judiciais), é óbvio que faço a minha voz grossa número 3 (aquela que nunca aceita um "não" como resposta).

      (um) beijo de mulata

      Eliminar