sexta-feira, 7 de outubro de 2016

[vozes brancas*] reforço positivo

Há dias, numa consulta de desenvolvimento, os pais de um menino com autismo manifestavam a sua perplexidade com o programa de treino intensivo [cujo nome obviamente não posso mencionar] em que tinham inscrito o filho:

- Sabe, doutora, eles fazem sempre o reforço positivo com comida. Mas em todas as sessões observam que ele responde muito melhor às palmas e aos elogios do que à comida.
- A na sessão seguinte?
- Como são sempre terapeutas diferentes, acabam por fazer o mesmo. Mas depois vêm dizer-nos que ele é muito sociável e que responde melhor aos elogios e palmas do que à comida, que ele tem muito boas características pessoais.
- Ah... e o que é que acham disso?
- Achamos que se calhar vamos procurar outro programa, o que acha, doutora?
- Claro! Onde é que já se viu um programa em que o terapeuta é sempre diferente e se vê que o menino responde melhor de uma maneira e não se ajusta nada ao menino na sessão seguinte? Ele quer ligar-se ao terapeuta e vai evoluir muito melhor de outro modo!

(E depois lembrei-me de uma cena familiar em casa dos meus pais: Há quase um ano, tinha o baby-de-mulata quatro anos e pouco. Depois de Mr. B, o meu sobrinho de sete anos, ter anunciado que queria ser engenheiro civil como o pai, o baby-de-mulata anunciou ao mundo em geral, e ao primo e a mim em especial que o estávamos a ouvir, que quando crescesse haveria de ser treinador de golfinhos. Já eu me perguntava quando tinha sido a última vez que tínhamos ido ao jardim zoológico ver golfinhos e nem me lembrava, e ele continuava:

- Sabes, é que eu já sei treinar golfinhos.
- Já sabes? - pergunta Mr. B, olhando para mim incrédulo.
- Sim, é muito fácil, queres que te ensine?
Fiz o mesmo olhar de espanto: - Sim, então como é que se treina um golfinho, filho?
- É canja! Quando ele faz bem, dás peixe!

E Mr. B, filho e neto de psicólogos, responde à letra ao que ele está a dizer:
- Tu não me digas que a tua mãe te dá chocolates quando tu fazes alguma coisa bem!

Ao que, muito ofendido, o baby-de-mulata responde:
- Claro que não, a minha mãe bate palmas e diz que está muito contente. Mas os golfinhos não percebem o que nós dizemos, por isso tens de dar peixe!

Pronto, era só um desabafo...)

* Voz branca - timbre da voz de uma criança antes da puberdade.

5 comentários:

  1. E é assim que sabes que estás a criar/educar um ser humano muito muito especial! De outro modo não poderia deixar de ser!... ;)

    Um beijo do lado de cá

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    1. Tem dias... mas parece-me que interiorizou um estilo parental...
      (um) beijo de mulata

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  2. Amei! Este foi o melhor que já li do seu baby! ������

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