sexta-feira, 14 de junho de 2013

[vozes brancas] os descobrimentos


Na consulta dos cinco anos de um menino amoroso e envergonhado, com uma timidez sempre encoberta de sorrisos furtivos e tentativas dissimuladas de se apropriar do meu estetoscópio, do aparelho de medir a tensão ou da lupa, eu perguntava-lhe, em jeito de desbloqueador de conversa, quem eram os melhores amigos, como se chamava a educadora e a que gostava de brincar no recreio. Por fim, lá se resolveu a entabular uma conversa comigo e contou-me que estava a ensaiar um teatro para a festa do final de ano.

- Ah, muito bem, e é um teatro sobre o quê?
- É sobre os descobrimentos portugueses, doutora - apressou-se a responder a mãe.
- Ah, e tu vais ser quem?
- Vou ser a árvore nadadora.
- A árvore nadadora? Mas como é isso?
- Então, filho, a mãe já te explicou, não é nadadora é...
- Narradora - respondeu a sorrir.
- Vais fazer o quê?
- Vou ser eu a contar a história!
- Que maravilha! É um papel muito importante. E o teu amigo Gonçalo vai ser quem?
- Vai ser o Elefante Dom Henrique!

(Eu cá não sou de intrigas, mas as educadoras deviam ter tido mais atenção ao casting... Um elefante é capaz de fazer qualquer caravela ir por água abaixo, mesmo tendo depois uma árvore nadadora a que se agarrar...)

2 comentários:

  1. Vozes brancas ainda ancoradas ao sec XVI.

    Não que esteja mal de todo, antes pelo contrário.
    Até enalteço, mas...sinto um vazio tão grande.
    Algo se perdeu entretanto, se foi perdendo, e ainda não se reencontrou.

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  2. O que é que se perdeu, Mr. 1B? A bravura dos descobrimentos ou a minha paixão por Moçambique? Tudo há de voltar. Com calma...

    (um) beijo de mulata

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