Maximillian Prager, Harvard University, Turma de 2019, Biologia Orgânica e Evolutiva
terça-feira, 30 de maio de 2017
[vozes brancas*] fofices
Há exatamente um ano, tentando motivar o baby-de-mulata para reconhecer a delícia que é ter um irmão mais novo, mostrei-lhe um Nenuco:
- Olha, querido, não é tão fofo? - perguntei, abraçando e embalando o boneco.
Com o ar mais dahh que alguma vez lhe tinha visto e, olhando com um desprezo colossal pelo canto do olho, respondeu-me:
- Sim, mãe, fofinho como uma grua num salão de baile!
(Sempre vi que tinha aqui um público difícil).
* Voz branca - Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.
sábado, 27 de maio de 2017
[cada mulher é uma ilha] o dia em que o mar desapareceu...
O dia em que o Índico se tornou frio e distante e decidiu esquivar-se ao contacto íntimo e envolvente com o seu corpo... Nesse dia, a mulher, alheia a tudo quanto já tinha deixado de existir em seu redor, apanhava marisco na maré-vaza...
...no final do dia, a mulher, com o cesto cheio, levantou a cabeça e seguiu o seu caminho por entre as águas, acreditando ainda que pelo menos o mar e o céu são garantidos... e nunca chegou a perceber que o mar nos toca apenas porque quer. E o céu só ilumina quem ama...
(Ilha de Moçambique, Nampula)
[Agradecendo as graças desta vida, passe o pleonasmo, e abraçando a saudade que o Índico nos imprime na pele*! Como diria a Helena Araújo, a primeira dama dos dois dedos de conversa: "Da minha vida vê-se o Índico..."]
* Não vivemos sem uma vírgula de Oxford.
terça-feira, 23 de maio de 2017
[mas porque foi que não dormiste esta noite, beijo-de-mulata?] silêncio...
E perguntam vocês: "Mas, beijo-de-mulata, a ti, que já estiveste em Moçambique no meio do mato e sempre conseguiste dormir de noite, agora é que te dão as insónias?"
É verdade, meus amigos, quem visita este mato há mais tempo sabe que já estive metida em assados muito complexos, quase sem meios nenhuns para socorrer os doentes e que sempre me desenrasquei sem perder o ânimo. Que num surto de sarampo me morreram quase tantas crianças como as que faleceram em Manchester e que num surto de cólera na Zambézia morriam por dia tantos ou mais do que ontem. Que "parto sem dor" no hospital no Gilé era um parto em que mãe e filho ficavam vivos.
E que quando achamos que já vimos de tudo, quando pensamos que já vimos todas as desgraças do mundo, que já vimos pessoas a morrer e a sofrer, a suportar aquilo que achamos que vai para além da força humana, parece que deixamos de estar preparados para aceitar que pode haver pior. Ainda pior. Foi isso que percebi quando, depois de 15 dias sem arredar pé da porta do Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados (INAR) em Nampula, tive finalmente autorização para entrar o campo de refugiados às portas da cidade e tratar os doentes de lepra que estavam a ser literalmente enterrados vivos pelos familiares. Nunca vos falei destes dias horríveis de descida aos infernos no campo de refugiados de Maratane porque nem eu própria gosto de me lembrar deles. De como os guardas do campo nos apontavam uma metralhadora à entrada só porque sim, nos revistavam o carro para nos intimidar e no final nos pediam boleia para casa, como se nada fosse. De como se podia ver o desespero na face das pessoas que não eram imigrantes naquele país. Eram toleradas se ficassem naquele espaço, mas tratadas como criminosas e aprisionadas se tentassem fugir. E fugir para onde, se não havia caminho de volta para casa? Sim, e não vos vou falar dos doentes de lepra. Eu própria não saberia como fazê-lo sem perder o sono.
E perguntam vocês, meus amigos: "Mesmo nesses dias conseguiste dormir?" E eu respondo que sim. Com mais ou menos dificuldade, mas sempre dormi de noite. E voltei no dia seguinte com ânimo e vontade. Porque sempre consegui sentir que fazia algo pelos doentes, porque apesar dos que morriam e sofriam, havia sempre muitos mais que sobreviviam e se curavam.
Mas o mais importante de tudo, à noite, não era saber que tinha conseguido ajudar. O mais importante nesses dias difíceis era saber que à noite tinha uma casa para onde voltar. Um colo para onde correr se estivesse mais triste. Uma casa segura, onde havia mimo, carinho e alegria. E tinha a minha própria família, se bem que a milhares de quilómetros dali, para onde iria voltar.
Foi isso que me faltou a mim ontem às pessoas que vi em Manchester. Porque o terrorismo é isso mesmo. Deixamos de ter uma casa segura para onde voltar. Onde construir raízes e criar os filhos. Bolas, como é possível?
É verdade, meus amigos, quem visita este mato há mais tempo sabe que já estive metida em assados muito complexos, quase sem meios nenhuns para socorrer os doentes e que sempre me desenrasquei sem perder o ânimo. Que num surto de sarampo me morreram quase tantas crianças como as que faleceram em Manchester e que num surto de cólera na Zambézia morriam por dia tantos ou mais do que ontem. Que "parto sem dor" no hospital no Gilé era um parto em que mãe e filho ficavam vivos.
E que quando achamos que já vimos de tudo, quando pensamos que já vimos todas as desgraças do mundo, que já vimos pessoas a morrer e a sofrer, a suportar aquilo que achamos que vai para além da força humana, parece que deixamos de estar preparados para aceitar que pode haver pior. Ainda pior. Foi isso que percebi quando, depois de 15 dias sem arredar pé da porta do Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados (INAR) em Nampula, tive finalmente autorização para entrar o campo de refugiados às portas da cidade e tratar os doentes de lepra que estavam a ser literalmente enterrados vivos pelos familiares. Nunca vos falei destes dias horríveis de descida aos infernos no campo de refugiados de Maratane porque nem eu própria gosto de me lembrar deles. De como os guardas do campo nos apontavam uma metralhadora à entrada só porque sim, nos revistavam o carro para nos intimidar e no final nos pediam boleia para casa, como se nada fosse. De como se podia ver o desespero na face das pessoas que não eram imigrantes naquele país. Eram toleradas se ficassem naquele espaço, mas tratadas como criminosas e aprisionadas se tentassem fugir. E fugir para onde, se não havia caminho de volta para casa? Sim, e não vos vou falar dos doentes de lepra. Eu própria não saberia como fazê-lo sem perder o sono.
E perguntam vocês, meus amigos: "Mesmo nesses dias conseguiste dormir?" E eu respondo que sim. Com mais ou menos dificuldade, mas sempre dormi de noite. E voltei no dia seguinte com ânimo e vontade. Porque sempre consegui sentir que fazia algo pelos doentes, porque apesar dos que morriam e sofriam, havia sempre muitos mais que sobreviviam e se curavam.
Mas o mais importante de tudo, à noite, não era saber que tinha conseguido ajudar. O mais importante nesses dias difíceis era saber que à noite tinha uma casa para onde voltar. Um colo para onde correr se estivesse mais triste. Uma casa segura, onde havia mimo, carinho e alegria. E tinha a minha própria família, se bem que a milhares de quilómetros dali, para onde iria voltar.
Foi isso que me faltou a mim ontem às pessoas que vi em Manchester. Porque o terrorismo é isso mesmo. Deixamos de ter uma casa segura para onde voltar. Onde construir raízes e criar os filhos. Bolas, como é possível?
domingo, 21 de maio de 2017
[vozes brancas*] massa cinzenta
[Este é o post nº 1500 deste blogue, desde a sua criação, há 7 anos, vários meses e várias telhas e amuos, lutos e lutas e aventuras.]
Há uns dias, eu estava a ameaçar zangar-me com o baby-de-mulata porque não se queria sentar à mesa para almoçar e teimava em levantar-se a desafiar-me com a sua irreverência, alegando os clássicos: "dói-me-a-barriga-não-tenho-fome-ainda-não-brinquei-nada-o-que-há-nesta-gaveta?-é-sempre-peixe-etc.-etc." E eu a respirar fundo, tentando não me transformar em momster, que como sabemos, torna a comida em geral indigesta (e o peixe em particular, segundo dizem). Foi então que o baby se aproximou de mim, olhou-me nos olhos, segurou-me a cabeça como costumava fazer, apaixonado, há uns anos (e ainda faz às vezes quando acorda, benza-o Deus) e perguntou-me:
- Mãe, o que tens dentro da tua cabeça?
- O mesmo que tu, baby, o cérebro.
- Ah, e como é feito o cérebro?
- É feito de massa branca e massa cinzenta.
- Então quando eu me estou assim a portar mal, é a massa cinzenta ou a massa branca a mandar?
(Coisa mai fofa de sua mãe! Até me apeteceu explicar que a parte que pensa é a cinzenta, mas clivagem em minha casa, não obrigada!)
- São as duas, meu bem, quando pensamos ou fazemos alguma coisa são sempre as duas em conjunto a trabalhar. E tu não te estás a portar mal, tu já vens para a mesa.
- Está bem, mãe. Vou já, é só que não me apetecia ir lavar as mãos, mas vou já.
*Voz branca - Timbre da voz das crianças antes da puberdade.
Há uns dias, eu estava a ameaçar zangar-me com o baby-de-mulata porque não se queria sentar à mesa para almoçar e teimava em levantar-se a desafiar-me com a sua irreverência, alegando os clássicos: "dói-me-a-barriga-não-tenho-fome-ainda-não-brinquei-nada-o-que-há-nesta-gaveta?-é-sempre-peixe-etc.-etc." E eu a respirar fundo, tentando não me transformar em momster, que como sabemos, torna a comida em geral indigesta (e o peixe em particular, segundo dizem). Foi então que o baby se aproximou de mim, olhou-me nos olhos, segurou-me a cabeça como costumava fazer, apaixonado, há uns anos (e ainda faz às vezes quando acorda, benza-o Deus) e perguntou-me:
- Mãe, o que tens dentro da tua cabeça?
- O mesmo que tu, baby, o cérebro.
- Ah, e como é feito o cérebro?
- É feito de massa branca e massa cinzenta.
- Então quando eu me estou assim a portar mal, é a massa cinzenta ou a massa branca a mandar?
(Coisa mai fofa de sua mãe! Até me apeteceu explicar que a parte que pensa é a cinzenta, mas clivagem em minha casa, não obrigada!)
- São as duas, meu bem, quando pensamos ou fazemos alguma coisa são sempre as duas em conjunto a trabalhar. E tu não te estás a portar mal, tu já vens para a mesa.
- Está bem, mãe. Vou já, é só que não me apetecia ir lavar as mãos, mas vou já.
*Voz branca - Timbre da voz das crianças antes da puberdade.
quarta-feira, 17 de maio de 2017
[as melhores do serviço de urgência] uma reanimação improvável
Como já vos tenho contado em diversos números anteriores, o Hospital de Curry Cabral foi o primeiro hospital onde trabalhei e de que guardo memórias fantásticas. Uma das quais é a sensação de ter de morder o lábio inferior para não sorrir quando os familiares dos doentes utilizavam a expressão "ir ao Rego*" como se fosse a coisa mais normal do mundo...
Outra das imagens que me ficaram para sempre aconteceu em certa noite de verão, uma noite já bem entrada na madrugada... estava eu de banco no SO - que era assim uma espécie de unidade de cuidados intensivos, mas com porta para a rua e de acesso quase direto - calmamente a transcrever umas análises, quando de repente, na sala contígua, oiço um bip longo de um alarme de um monitor, seguido de um ruído de arrastar de camas. Levantei-me de imediato para ir acudir à situação de perigo que se me desenhava na mente: uma paragem cardíaca e um enfermeiro zeloso que se precipitara para a cama do doente para iniciar manobras de reanimação, mas que inexplicavelmente não tinha gritado por ajuda. Ainda nem tinha chegado à porta quando oiço um berro abafado de um homem, seguido de um ruído de luta corpo a corpo e um estrondo enorme. Entro na sala e, incrédula, vejo um dos doentes que estava internado com um enfarte agudo do miocárdio, de pijama, em cima do doente da cama do lado, com este último a debater-se furiosamente para o tirar de cima de si, e vários objetos da mesa de cabeceira e os suportes dos soros a serem atirados ao chão no meio da inusitada batalha campal que se instalara na pacata enfermaria... Já os cateteres saltavam das veias, com soros, medicação e sangue derramados, quando os enfermeiro acorreram para os separar e restabelecer a ordem pública...
Levou-me algum tempo a perceber que raio é que se tinha passado... Ora o doente com um enfarte agudo do miocárdio que saltara da cama para cima do doente do lado não estava com uma crise psicótica nem possuído por um desejo mórbido e louco, mas era antes cardiologista. Pois... isso mesmo! Foi essa a explicação que ele me deu de imediato quando perguntei, furiosa, o que é que se passava ali... "Eu sou cardiologista, eu sou cardiologista." - dizia ele.
Explicou-me que estava a dormir tranquilamente quando, de súbito, despertou com o bip longo do monitor do doente do lado, olhou para o traçado eletrocardiográfico do monitor e viu uma linha isoelétrica (uma linha direita contínua) e o doente parado. Com o raciocínio levemente toldado pelo sono, pelos tranquilizantes que lhe tinham dado e pela sensação de morte iminente que vivera horas antes, concluiu de imediato que se tratava de uma paragem cardíaca e decidiu iniciar manobras reanimação cardiorrespiratória. A versão do vizinho do lado era ligeiramente diferente... O vizinho do lado, por seu lado, que não estava em paragem cardiorrespiratória coisa nenhuma, apenas desligara inadvertidamente os fios do monitor quando se tinha virado enquanto dormia, tinha acordado espavorido com um homem em pijama a dar-lhe um murro no peito quase a ponto de lhe partir as costelas e a soprar-lhe pela boca adentro (sim, na altura a respiração boca-a-boca ainda fazia parte do suporte básico de vida)... Obviamente que se tinha tentado defender com unhas e dentes do homem que o estava a assediar!
De onde se conclui que até para sobreviver a um internamento é preciso ter sorte, vizinhos simpáticos e sentido de humor...
*Rego - Hospital de Curry Cabral
segunda-feira, 15 de maio de 2017
[o milagre dos pastorinhos] e os meus milagres particulares
I once had a hospital in Africa...
(Gilé, Zambézia)
Milagres autênticos, não explicáveis pela fisiopatologia, acho que só vi um. Ou dois, pronto. Um e meio, já que para o primeiro ainda ponho hipóteses explicativas. Já vos contei as histórias (podem ir ali atrás ler esta história, e a outra também, mas aviso desde já que esta última é longa e difícil), talvez um pouco parecida com a do Lucas: Uma criança em descerebração acabou por recuperar sem sequelas! A situação era de tal forma grave que me cheguei a arrepender de ter insistido no tratamento. Quando vi que o menino estava reagir em descerebração fiquei horrorizada. A minha convicção foi apenas que o menino haveria de ficar com sequelas gravíssimas. Da mesma forma que os médicos que reanimaram o Lucas antes de o operar pela primeira vez poderão ter duvidado se tinham feito o que era correto... Não sei o que sentiram neste caso. Eu pessoalmente sei que reanimaria, mas haveria de duvidar por dentro se estaria a fazer o que era melhor para o menino.
Mas depois avisaram os pais do Lucas de que o menino poderia ficar com sequelas muito graves, possivelmente em estado vegetativo antes de o transferir para um hospital maior. Talvez tenham mesmo chegado a fazer a pergunta que este aviso quer dizer: "Querem mesmo que se continue o tratamento ou preferem que paremos por aqui, já que a situação é desesperada? No final vão aceitar cuidar o menino se ele ficar com sequelas graves?" Eu própria fiz a mesma pergunta aos pais do meu menino. Eu não tinha para onde o transferir, perguntei apenas se queriam que o menino fosse morrer a casa. Mas tudo o resto foi igual. Tenho a imagem do milagre gravada na minha mente. O menino acordou, horas depois, e começou a brincar com o meu estetoscópio vermelho. A minha cara de espanto e felicidade deve ter sido muito expressiva, porque a mãe sorriu e chorou comigo. Não sei se se chegou a aperceber do quão extraordinária foi a cura do filho.
Aquilo a que assisti não tenho a certeza se foi milagre, mas já perguntei a muitos colegas especialistas nesta área e ninguém viu semelhante coisa. O cérebro é plástico, isso eu sei e não é novidade para ninguém. Mas há limites. E a descerebração é onde eu traço o meu.
Se foi milagre de algum santo em particular não sei. Nunca saberei. Nem me ocorreu rezar, de tal forma estava convencida de que o desfecho seria trágico. Não tenho registos. Por acaso tenho uma testemunha, mas não há maneira de haver provas. Sei que a Irmã Lurdes rezou por ele ao seu santo de particular devoção. Mas não sei mais nada. Isto para dizer que todos os dias há milagres. E quando não são milagres, são graças enormes. E que vale a pena acreditar, porque quem não acredita (que é quase sempre o meu caso, infelizmente) sofre mais!
Se aprendi a rezar por milagres? Acho que não. Mas devia. Talvez ainda vá a tempo...
[SNS we can!] sobre o ataque informático em larga escala
O mundo civilizado em pânico pelos ataques informáticos que deixaram os computadores lentos, bloqueados, a impedirem o atendimento de utentes, o caos instalado. Ou como lhe chamamos em Portugal "o PEM* num dia bom". (Desabafo de um colega meu no facebook).Desculpem, ainda me estou a rir. Não devia, eu sei, só nós sabemos o que aquilo é todos os dias... Nem me devia rir também com o facto de o SONHO** não ter sido afetado. É um sistema tão arcaico que nem o WannaCry conseguiu entender-se com aquilo!
*Software que permite passar receitas no Serviço Nacional de Saúde.
** Sistema de informação para a gestão de doentes.
sexta-feira, 12 de maio de 2017
[vozes brancas*] o lançamento de um livro
Ontem o baby-de-mulata chegou a casa desolado. Tinha ido entusiasticamente ao lançamento do livro do tio-avô, Rostos da Emigração, da editora Orfeu. Um livro para adultos, obviamente, sobre um tema pesado e muito descurado na literatura portuguesa, que é a emigração portuguesa nos anos 60-90 e os seus dramas sociais, numa escrita livre, escorreita e deliciosa (tive o privilégio de o poder ler antes do lançamento).
Falou-se muito e de forma séria, mas o baby aguentou estoicamente na sua cadeira, na expetativa do clímax apoteótico que fantasiava para o final. Mas, no final, nada mais aconteceu. Toda a gente se foi despedindo e seguindo o seu caminho para fora da sala, sem fazer a pergunta incómoda que já lhe queimava a língua. No final perguntou ao avô: "Mas, avô, quando é o lançamento?"
- Já foi, querido!
- Já foi?! Não vi nada! Então a luta de livros? Ninguém vai atirar nada?! Já no ano passado, no lançamento do livro da prima Joana foi a mesma coisa! Toda a gente falou e pronto. Mais nada. Não é justo!
* Voz branca - Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.
quinta-feira, 11 de maio de 2017
[querido, vesti o miúdo] semana mundial do babywearing
Esta é a Semana Mundial do Babywearing!
[Ainda bem que os meus amigos moçambicanos não me leem habitualmente, de outro modo achariam tudo isto ridículo e estariam a olhar para mim com cara de "Duh, qualquer dia nós também fazemos a Semana Nacional de Comer a Sopa com Colher ou a Semana Mundial de Usar Roupa Interior só para gozar convosco! Há lá outra maneira de transportar as crianças!"]
Eu sou uma fervorosa adepta do babywearing, que tem inúmeras vantagens para as crianças e o seu desenvolvimento e usava sempre uma capulana moçambicana para transportar o baby-de-mulata. Era pro em colocar o menino às costas, num exercício africano de equilíbrio e destreza que deixava sempre a minha mãe sem respirar e a conter-se para não dizer "Cuidado que me deixas cair o desgraçado!", mas depois de o colocar nas costas (não há outra maneira, com uma capulana), trazia-o sempre para a frente porque prefiro olhar o meu filho nos olhos. Não o deixava nas costas, embora até achasse que ele não se importaria de ir a apreciar a paisagem. Depois rendi-me a uma solução mais prática, com panos que dão para colocar diretamente à frente. Quase tive pena de deixar a tradição moçambicana, mas as minhas costas e as coronárias da minha família (que, vá se lá saber porquê, não confia na minha fantástica agilidade e destreza corporal*) agradeceram.
* E têm razão, pronto...
quarta-feira, 10 de maio de 2017
[a vida é curta, a arte é longa] batik
Hoje mandei emoldurar um batik moçambicano que encontrei no fundo de uma gaveta, comprado a caminho do Hospital Central de Maputo, numa tarde de despedida... talvez por ter sabor a tristeza e a regresso me tenha esquecido dele... até o som dos batuques me bateu mais forte no coração! É preciso abraçar a saudade...
terça-feira, 9 de maio de 2017
[beijo de mulata fashion] o ouro da zambézia
Os meus brincos de ouro, made in Gilé
(Zambézia, Moçambique)
Já vos contei esta história. Hoje, ao escolher os brincos, encontrei estes aqui acima e não resisto a contá-la de novo!
Próximo do grande Centro Hospitalar do Gilé (o paupérrimo hospital do distrito), na mesma rua da pousada do Sr. Pompisk (para ele, mesmo que não nos esteja a ouvir, um abraço!), vivia o único ourives, o Sr. Elvis Pires. Não sei muito bem onde é que ele adquiria o ouro, mas suponho que o comprasse aos garimpeiros das minas situadas a poucos quilómetros da vila. Por acaso isso não me choca nada... Nem tenho a certeza de que os próprios garimpeiros teriam perfeita noção de que a exploração das minas e a comercialização do ouro da sua própria terra era ilegal, de tal forma era feita às claras.
Mas como eu ia dizendo, o Sr. Elvis Pires, a quem eu tratava respeitosamente por Sr. Ourives porque não conseguia evitar sorrir com o nome improvável, era um homem em muitos aspetos admirável. Apesar do nome, que nos faria pensar numa família vanguardista, as suas origens eram as mais humildes. Oitavo filho de uma família de camponeses, viveu uma infância igual à da maioria das pessoas do país: dormiu no mato durante os anos da guerra civil para se esconder dos ataques dos "bandidos armados", teve a casa destruída inúmeras vezes, viu irmãos morrerem às mãos dos guerrilheiros e sucumbir a doenças banais, teve várias doenças e medo de morrer em todas elas, foi mordido por uma cobra e sobreviveu miraculosamente graças a um curandeiro (esta última parte talvez não seja assim tão comum, mas enfim...). Mas o que fazia a diferença, o que fazia dele um homem remediado, que conseguia sobreviver e ganhar a vida sem ser de mão estendida ou dentro da máquina do partido, era ser um homem de iniciativa, um homem de sonhos e de trabalho.
Mas, por muito suor que empregasse nas suas obras, o Sr. Ourives, com muita pena minha, não era um artista nato. Não era um criador genial e inspirado. Podia ser um bom homem de família, um empresário honesto, um executante razoável, mas um artista sem ideias e com um gosto sofrível...
Por isso, a Irmã Lurdes, que pelas minhas contas há de vir a ser santa, nas suas idas a Paris trazia-lhe sempre catálogos de grandes marcas para ele se inspirar. O último tinha sido o da Cartier. Mas nem assim... Por um lado é preciso bom gosto por parte do artesão e, por outro, é preciso bom gosto e poder de compra por parte do mercado. Ou seja, mesmo depois de ter tido contacto com peças de elevadíssimo gosto em comparação com as suas, as obras de Elvis Pires continuavam as mesmas bolinhas e argolinhas algo toscas de sempre, que ele guardava amorosamente em pequenos saquinhos de comprimidos surripiados da farmácia do hospital...
Felizmente, no último ano em que lá estive, a Irmã Lurdes teve uma ideia genial! Numa ida ao Carrefour de Paris lembrou-se de pedir o catálogo da ourivesaria... A face do Sr. Pires iluminou-se quando o viu! Era todo um novo mundo de pequenas ideias acessíveis, simples e baratas ao seu alcance. E foi também com base neste catálogo que o Sr. Ourives recebeu a sua primeira encomenda de uma médica portuguesa. Meus queridos amigos, eu tive de me esforçar genuinamente, mas no meio do catálogo do Carrefour consegui encontrar um modelo de brincos engraçado. Ele ficou a babar-se. Já antes me tinha tentado vender sem sucesso algumas das suas obras, mas eu, por muito boa vontade que tivesse, não tinha conseguido comprar nada.
A minha intenção com esta encomenda era apenas dar trabalho a um homem de família (e, vá, também queria uma história para contar, pronto, já me conhecem...). Não tinha a mais pálida intenção de os usar mais tarde. Mas... e não é que ficaram perfeitos? É que até que não são feios... Atualmente uso-os de vez em quando. Por graça, mas uso.
Ah, e a sobrinha do Sr. Elvis Pires chamava-se Angelina Júlio! É uma coisa de família...
segunda-feira, 8 de maio de 2017
[iAgora na prática] presente do dia da mãe
Ontem foi o final da semana mundial sem ecrãs. No sábado o baby-de-mulata perguntou-me se, para além do presente da escola (que já me tinha dado na sexta-feira porque sim), haveria alguma coisa que pudesse fazer para eu me sentir feliz no dia da mãe.
Fiquei a babar-me. E respondi que o melhor que ele poderia fazer por mim era acordar e não ir ver televisão, como de costume e ficarmos a brincar, montar legos, desenhar. O que lhe apetecesse.
Acordou-me (ouch!) às 07:00 da madrugada (sim, mães de lactentes, eu sei que não me posso queixar, mas ainda assim...) com uma caixa de lego na mão, um sorriso de orelha a orelha e um: "Parabéns, mamã, vamos montar este?". Amor de sua mãe [ou isso ou sou mesmo uma fácil...]! O rapaz adora ver televisão aos fins de semana, pelo que lhe deve ter custado tanto como a mim me custa não tomar café, por exemplo, sacrifício valente!
Fiquei a babar-me. E respondi que o melhor que ele poderia fazer por mim era acordar e não ir ver televisão, como de costume e ficarmos a brincar, montar legos, desenhar. O que lhe apetecesse.
Acordou-me (ouch!) às 07:00 da madrugada (sim, mães de lactentes, eu sei que não me posso queixar, mas ainda assim...) com uma caixa de lego na mão, um sorriso de orelha a orelha e um: "Parabéns, mamã, vamos montar este?". Amor de sua mãe [ou isso ou sou mesmo uma fácil...]! O rapaz adora ver televisão aos fins de semana, pelo que lhe deve ter custado tanto como a mim me custa não tomar café, por exemplo, sacrifício valente!
domingo, 7 de maio de 2017
[mamãs africanas] dia da mãe sem medo, nem dó, nem drama...
Mamãs de Nampula e da Zambézia
(Moçambique)
Dizem os portugueses que "quem tem mãe tem tudo, que não tem mãe não tem nada". Dizem os africanos, em jeitos de sinónimo (que todos os provérbios importantes existem com tradução): "casa sem mãe é um deserto".
sábado, 6 de maio de 2017
[welcome to gorongosa] encontro com um pangolim
Pôr do sol na Gorongosa e Pangolim
(Gorongosa, Sofala, Moçambique)
Transcrevo uma parte de um texto que me tocou particularmente. A Gorongosa representa a parte de mim que acredita que há de regressar a Moçambique: é que eu sei que vou voltar porque nunca fui à Gorongosa! Daqui.
1 Maio, 2017
No verão de 2014 encontrei-me pela primeira vez em África, pela primeira vez vivendo longe dos meus pais, e pela primeira vez colocando a fascinação da minha vida pela fauna bravia em ação. Eu era um estudante do ensino médio de Nova York, a estudar no Laboratório de Biodiversidade E. O. Wilson, com os biólogos e conservacionistas do Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique. Mais especificamente eu estava a trabalhar com Piotr Naskrecki, um entomologista, fotógrafo de natureza, diretor do Laboratório Wilson, e meu mentor e amigo. Ao voar para o Parque, eu não sabia que iria “gastar” os meus dois verões seguintes neste lugar, e que ficaria tão encantado com a paisagem, a fauna bravia, as pessoas e a causa da conservação da natureza.
A minha primeira curta visita ficou repleta de experiências inesquecíveis. No meu breve tempo no Parque, segui bandos de leões acompanhado por especialistas, segurei uma inhala que dava coices enquanto um veterinário a tentava anestesiar e colocar uma coleira de rádio, apanhei morcegos em redes de malha fina, e fui continuamente mordido, arranhado, picado e pulverizado por uma miríade de pequenos répteis e invertebrados. No entanto, o episódio mais memorável desse primeiro verão em Moçambique foi o meu envolvimento no resgate de uma mãe pangolim e do seu bebé.
O pangolim terrestre (Smutsia temminckii) é um mamífero bizarro nativo da África subsaariana. O pangolim movimenta-se lentamente mas é surpreendentemente elusivo, e alimenta-se de térmites; preenche um nicho ecológico semelhante, embora totalmente alheio, aos tatus das Américas. Com a sua cauda longa, garras escavadoras arredondadas, e uma armadura de placas queratinosas, o pangolim é uma verdadeira quimera. Pode ser encontrado em várias formas em toda a Ásia e África, algumas terrestres e outras arbóreas. Nunca poderíamos supor que o pangolim é o mamífero mais traficado ilegalmente do planeta. Os pangolins têm muita procura na China e no Vietname, onde sua carne é considerada uma guloseima, e as suas escamas são falsamente acreditadas como a cura para o reumatismo e a artrite. A prevalência de uma infeliz e desnecessária causa de morte dessa incrível criatura não passa de uma farsa.
Os pangolins não são fáceis de encontrar. Ao longo dos seus anos de investigação, não só em Moçambique, mas em toda a metade sul da África, Piotr nunca “tropeçou” num pangolim. Na verdade, parecia que o pangolim sempre se escapava à sua vista; ao voltar ao acampamento uma noite, ele poderia ouvir dizer que outro cientista tinha visto um, mas que não sabia onde Piotr estava na altura, ou que não tinha uma câmara à mão. O pangolim era a baleia branca de Piotr, como me foi lembrado repetidamente nos dias que antecederam o encontro.
No dia anterior ao que eu tinha programado para deixar a Gorongosa, recebemos a notícia de que um caçador furtivo numa aldeia próxima tinha dois pangolins na sua posse, uma mãe e um bebé. Ele estava anunciar a sua venda por 23.000 Meticais, na altura o equivalente a cerca de $750 US. Alguns guardas do Parque partiram para prender o ladrão e recuperar os animais. O par foi recuperado com segurança, pelo que soubemos naquela noite, e permaneceu num quarto de armazenamento até à sua libertação. Seria nossa responsabilidade encontrar um lar adequado para eles e entregá-los de volta ao Parque.
Na manhã seguinte, horas antes de sair do Parque, eu saltei para a nossa Toyota Hilux com o Piotr e a Jen Guyton, uma mamalogista, e fomos buscar os pangolins. Estacionámos o carro, e Piotr entrou na pequeno quarto de armazenamento para ir buscar os pangolins. Minutos mais tarde, ele ressurgiu com os braços em torno de uma esfera pesada e com escamas que se assemelhava a uma alcachofra gigante. Colocou-a nos braços de Jen e ligou o carro. Depois de algum tempo o esfera descontraiu-se, e um focinho longo, semelhante ao de um galgo, emergiu para provar o ar exterior pela primeira vez em poucos dias. Levantando mais a cabeça, revelou um pálido recém-nascido, coberto por uma pele de escamas que lembravam unhas frágeis. As mães pangolins, quando ameaçadas, enrolam-se em torno dos seus bebés para os proteger. O odor do bebé era mais comparável ao cheiro de uma caixa de parto após um cão ou gato ter dado à luz, ligeiramente suave, mas acentuado pelo aroma do leite doce. Sobressaltada pelos solavancos da condução, a mãe desdobrou-se mais uma vez, derramando o bebé no meu colo. Piotr disse-me para agir rapidamente - eu tinha que segurar o bebé perto do meu peito e protegê-lo. O bebé tremia nos meus braços. Ele era muito delicado para ser movimentado. Assim segurei-o de forma apertada enquanto acelerávamos em direção ao nosso destino.
O ponto de libertação foi uma área de mato arenoso pontilhada com termiteiras; a mãe pangolim teria muita comida aqui. Jen colocou o par no chão, com a mãe desenrolada. O poderoso pangolim parecia um gigante de madeira, como uma montanha com garras, apenas encolhido para o tamanho de um cão de raça “beagle”. Ela colocou o bebé às costas tal como esperávamos. A montanha em miniatura ergueu o seu longo focinho e começou a caminhar para o mato. Quando ela desapareceu, o farfalhar da relva e o estalar de pequenos galhos foram ficando cada vez mais fracos.
(Ler mais aqui)
sexta-feira, 5 de maio de 2017
[psiquiatrices] e comida saudável
Esta passou-se no meu hospital, com uns colegas meus, no internamento de Pedopsiquiatria. É uma enfermaria geralmente muito animada, com muitas particularidades que fazem dela um especial caso de sucesso. Os meus colegas jogavam às cartas com um grupinho terapêutico muito divertido, em que se incluíam algumas doentes com anorexia nervosa em franca recuperação, outras com depressão grave, outras com outras patologias. A dada altura, uma adolescente com anorexia nervosa lança a carta representada acima, declarando, triunfante:
- Ás de Brócolos!
(O que prova que qualquer mancha em psiquiatria é projetiva. E poderia abrir aqui um longo parêntesis sobre a interpretação deste lapsus linguae, mas não o farei pelos seguintes motivos:
a) não pretendo fazer psicanálise selvagem;
b) a origem do ato falhado é absolutamente óbvia;
c) no dia em que inventarem um teste de Rorschach de escolha múltipla prometo vir aqui fazer uma interpretação extensa do paradigma;
d) sem outro motivo;
e) tenham um bom fim de semana!).
quinta-feira, 4 de maio de 2017
[welcome to mozambique] as pulseiras mais fashion
Feira do Pau Preto, fotos daqui, que nem por sombras levaria a minha máquina fotográfica para as compras na feira... O que ganharia em registo gráfico perderia em poder negocial.
(Nampula, Moçambique)
[Esta manhã o facebook teve a gentileza de me recordar este episódio. E não resisto a contar-vos de novo a mesma história!]
Uma das coisas que mais gosto de comprar e que sei que as minhas amigas mais apreciam são as pulseiras exóticas, feitas em pau preto, sândalo e pau rosa que se vendem na chamada Feira do Pau Preto, aos domingos em Nampula, onde se pode comprar de tudo, desde vassouras feitas com fibra de coco até lamparinas feitas de latas de conserva vazias, passando pelas inevitáveis capulanas e medicamentos tradicionais e, claro, aquilo que dá nome à feira, as famosas obras de arte lindíssimas em pau preto, feitas de uma só peça, apenas com um canivete, por homens que aprenderam sozinhos, ou com alguém próximo, a difícil e paciente arte de talhar a madeira.
Certa vez, uma amiga pediu-me que lhe trouxesse como lembrança uma pulseira de rabo de elefante. Segundo ela, era do mais fashion que existia, em termos de acessórios exóticos africanos. Fiquei horrorizada. Eu não sou capaz de comprar marfim ou tartaruga, por mais bonitas que sejam as peças de arte. Por mais que me digam que os elefantes não são mortos para lhes retirar as presas, só as retiram de elefantes encontrados já mortos acidentalmente e que as tartarugas não são mortas de propósito. É fácil iludirmo-nos com estas desculpas ingénuas... Mas uma pulseira de cauda de elefante? Que estranho e, ao mesmo tempo, que curioso. É que não lembra ao menino Jesus, quanto mais ao rabudo... Certo domingo, quando já estava a regressar a casa vinda da feira, mesmo em frente ao delicioso estádio do Sporting Clube de Nampula, vi estas pulseiras a vender e resolvi parar o carro e investigar por conta própria, num rasgo de inspiração:
- Bom dia, senhor, novidades*?
- Tudo bem, não sei do seu lado...
- Salama**, obrigada.
- Ah... Senhora, estou a vender pulseira.
- Sim estou a ver, estas pulseiras são de quê?
- Rabo de elefante...
- Ah, muito bem. E custam quanto?
- Está a 20 cada uma...
- A 20 meticais? E quanto me faz se levar cinco?
- Fica a 15 cada uma.
. Está bem... E quem fez as pulseiras?
- Eu mesmo, mamã!
- Ah, muito bem, parabéns, são muito bonitas! Mas onde é que arranjou o rabo de elefante?
- É um caçador que vende.
- Um caçador? E onde é que ele caça?
- Não sei, mamã...
- Mas ele mata os elefantes para lhes cortar o rabo?
- [Atrapalhado, sem saber o que dizer a esta mukunya***, que nem comprava nem desgrudava literalmente do seu pé...] Não... corta o rabo, só.
- Hum... Olhe, pode dizer, que eu levo na mesma...
- O quê, mamã?
- Não são de elefante, pois não?
- [Com pouca convicção] São sim...
- Mas pode dizer, não tem problema...
- [Baixando os olhos, envergonhado e baixando também a voz...] Ah, mamã... São di pineu...
- De quê?
- Di pineu, mamã.
- Mas o que é um pineu?
- Um pineu, mamã!
- Pineu? Mas isso é um bicho? É parecido com quê?
- Pineu... Não sabe o que é pineu? Pineu di carro!
- De pneu?!
- Sim, mamã. Nós corta o pineu di carro e dentro do pineu tem o miolo que faz o fio...
- Ah... Levo cinco, então!
* Novidades - Como está [de saúde]?
** Tudo bem.
*** Mukunya - Branca
terça-feira, 2 de maio de 2017
[welcome to mozambique] always dancing
Moçambique, país de danças e sorrisos!
Enquanto não me volta a vontade de escrever, fiquem com este vídeo de danças deliciosas em Nampula e Iapala (norte de Moçambique). Palavras para quê? A emissão segue dentro de momentos...
segunda-feira, 1 de maio de 2017
[as melhores do serviço de urgência] no melhor pano cai a nódoa...
Hoje, ao ler um artigo desastroso sobre dietas e cenas saudáveis lembrei-me de um episódio que já aconteceu há mais de cinco anos. No serviço de urgência, ao ver um menino com uma alergia cutânea provavelmente alimentar, a mãe responde:
- Alergia? Como, alergia?! O meu filho nunca comeu nada que não fosse feito em casa, nada com corantes ou conservantes, temos imenso cuidado na escolha da comida que lhe damos. É tudo biológico e evitamos a carne e o peixe.
- Mas ele não come carne nem peixe de todo?
- De vez em quando come, também não somos fundamentalistas. Mas no dia a dia optamos por proteínas vegetais de alto valor biológico. E cozinhamos tudo sem sal.
- Muito bem... mas olhe, a partir dos 12 meses [de facto ele já tinha cinco anos] já se pode começar a colocar um pouco de sal na comida, até porque eles estão a crescer e precisam de sódio.
- Ah, não, doutora, mas nós não pomos mesmo sal nenhum. Só usamos Caldo Knorr.
(suspiro...)
- Alergia? Como, alergia?! O meu filho nunca comeu nada que não fosse feito em casa, nada com corantes ou conservantes, temos imenso cuidado na escolha da comida que lhe damos. É tudo biológico e evitamos a carne e o peixe.
- Mas ele não come carne nem peixe de todo?
- De vez em quando come, também não somos fundamentalistas. Mas no dia a dia optamos por proteínas vegetais de alto valor biológico. E cozinhamos tudo sem sal.
- Muito bem... mas olhe, a partir dos 12 meses [de facto ele já tinha cinco anos] já se pode começar a colocar um pouco de sal na comida, até porque eles estão a crescer e precisam de sódio.
- Ah, não, doutora, mas nós não pomos mesmo sal nenhum. Só usamos Caldo Knorr.
(suspiro...)
[o mundo católico divide-se em...] homenagem quadripolar
O mundo católico divide-se entre os "o-meu-pai-é-o-dono-disto-tudo" e os "fia-te-na-Virgem-e-não-corras".
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