Este ano em Portugal não há Natal: o Espírito Santo faliu, o José está preso e o Jesus foi eliminado.Se calhar ainda vai tudo parar a Santa Maria, valha-nos o Natal dos Hospitais...
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
[graças e desgraças] deste portugal tadinho...
Desculpem, mas não resisti a partilhar este post quadripolar:
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
[vozes brancas] etimologias...
Para o baby-de-mulata:
- Então, meu querido, sabes onde vais com a escola amanhã?
- Vou ao planetário... Plantar o quê, mãe? Vamos lá plantar flores?
...
No dia 7 de Dezembro:
- Mamã, hoje é domingo?
- Sim, filho...
- Então amanhã é dia de escola?
- Não, meu amor, amanhã é feriado.
- Vai estar frio? Mas eu visto o casaco, prometo!
...
Isto promete! E o que se perde em propriedade vocabular, ganha-se em consciência fonológica, benza-o Deus, que lá ouvido não lhe falta!
- Então, meu querido, sabes onde vais com a escola amanhã?
- Vou ao planetário... Plantar o quê, mãe? Vamos lá plantar flores?
...
No dia 7 de Dezembro:
- Mamã, hoje é domingo?
- Sim, filho...
- Então amanhã é dia de escola?
- Não, meu amor, amanhã é feriado.
- Vai estar frio? Mas eu visto o casaco, prometo!
...
Isto promete! E o que se perde em propriedade vocabular, ganha-se em consciência fonológica, benza-o Deus, que lá ouvido não lhe falta!
[...and the season began] em repeat
E a quadra de Natal começou! Cá em casa treinamos afincadamente para a festa de Natal do colégio do baby-de-mulata, e cantamos ainda esta música que vos deixo, provavelmente a melhor canção de Natal infantil escrita nos últimos anos!
Ensinem aos vossos filhos, que a vida é simples, e o Natal também!
Ensinem aos vossos filhos, que a vida é simples, e o Natal também!
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
[outras palavras] frase da semana!
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
[outras palavras] o lugar das birras é no birrão!
Em criança atirava-me para o chão quando me contrariavam a vontade infantil. Fazia birras. Em qualquer lugar. Terminadas, normalmente, com um açoite e mais lágrimas. Era o método pacifista de antigamente: a palmada da paz.
Entretanto passaram-se 40 anos e deparo-me com uma criança de 18 meses a pôr-se em bicos dos pés, a crescer literalmente para mim, a encostar-me à parede para poder passar. Mal termino de proferir um Não! e já a miúda está a espumar da boca, de punhos cerrados e com um olhar, primeiro suplicante, depois raivoso. Sou a mãe carrasco. E ela não é menos do que um Gremlin, dos maus.
– Não dê importância! Senão, está tramada – Palavras da pediatra. Conselhos das amigas mães.
Regras dos livros com títulos que as mães querem ouvir: O Grande Livro dos Medos e Birras; Grandes Birras, Pequenos Truques; As crianças francesas não fazem birras. – A sério? Bem, talvez possa admitir que um Laissez faire, laissez passer! dito por uma criança francesa à sua mamã não envergonhe ninguém. E conforta-me saber que terei sempre Paris.
Ninguém gosta de fitas, caprichos, comportamentos exacerbados. Nos outros, claro. Respira-se fundo, conta-se até dez, argumenta-se, depois ameaça-se e, finalmente, castiga-se.
– Ignore! Tenha paciência! – Errado. Porque ninguém ignora; finge que ignora. Finge, impacientemente, que tem toda a paciência do mundo. Porque para a criança aprender a lidar com as suas frustrações, os pais têm de engolir as suas verdadeiras reações. Porque as crianças aprendem com o exemplo dos pais que, convenhamos, são exemplares quando fazem de conta. São dos melhores artistas que tenho observado.
No meu caso estou a iniciar carreira como cantora. Nunca me deu para cantar a meio de uma discussão. Só que as birras dão mesmo cabo da sanidade mental dos pais. Por isso, dei comigo a desatar a cantar, um destes dias, quando a minha filha se atirou para o chão porque não a deixei comer um parafuso. A um prego eu até poderia ter olhado para o lado mas o parafuso soltou-me as cordas vocais.
Birras são como vilãs / Tombos indiscretos no alcatrão sujo / Rasgando os nervos das mamãs / Deitados nas Birras, alheios a tudo / Olhos lacrimejantes / Pensamentos danados.
É mauzinho mas é sincero. E funcionou pois a miúda ficou sem pio. Penso que, instintivamente, sentiu que era melhor ter cuidado comigo. Percebo-a, há dias em que penso o mesmo sobre a minha pessoa.
Quanto a ela, gosto de pensar que a miúda é expressiva. Que manifesta um forte desejo de independência em construção. Quer trocar a fralda em pé, que estando empapada em cocó, me facilita imenso a vida. Quer comer com as mãos, o que não me incomodava se não fosse puré. Não quer pôr o cinto de segurança, eu obrigo e ela tira as alças assim que arranco. Quer sempre mais uma colher de xarope e, se a deixasse, auto-medicava-se desde os 2 anos. Ah! E quer pintar as paredes, que são minhas, com os lápis de cera, que são dela. A pro-atividade impera nas crianças.
Honestamente, invejo-a. E que caiam os dentes a quem negar esta evidência: todos os adultos mentalmente saudáveis, pais ou não, invejam as birras infantis. Porque também eles, em crianças, foram lesados nas suas vontades e impedidos de reclamar, ripostar, reagir.
E como se não bastasse terem sido obrigados a desistir dos seus caprichos de infância, ainda lhes é exigido que se comportem como adultos todos os dias do resto da sua vida! Uma crueldade. Felizmente, existem os batoteiros. Que são a maioria.
Para manterem a sanidade mental, adultos e crianças, têm mesmo de despejar as vontades contrariadas. Assim, a única solução que encontro é arranjar um birrão. É como ir pôr o lixo, à noite, na rua. Todos os dias temos de o fazer, atar o saco, carregá-lo e depositá-lo no lixão. Porque se acumularmos muitas birras ficamos nauseabundos. Limpeza é sobrevivência.
Deixemos pois as crianças fazerem as suas birras. Mas à noite, na rotina do soninho, depois de lavarem os dentes devemos ensiná-las a irem pôr as birras no birrão.
Já escrevi ao Pai Natal a pedir um birrão cá para casa, tamanho familiar. Estou em pulgas.
Por Sofia Anjos, aqui.
Entretanto passaram-se 40 anos e deparo-me com uma criança de 18 meses a pôr-se em bicos dos pés, a crescer literalmente para mim, a encostar-me à parede para poder passar. Mal termino de proferir um Não! e já a miúda está a espumar da boca, de punhos cerrados e com um olhar, primeiro suplicante, depois raivoso. Sou a mãe carrasco. E ela não é menos do que um Gremlin, dos maus.
– Não dê importância! Senão, está tramada – Palavras da pediatra. Conselhos das amigas mães.
Regras dos livros com títulos que as mães querem ouvir: O Grande Livro dos Medos e Birras; Grandes Birras, Pequenos Truques; As crianças francesas não fazem birras. – A sério? Bem, talvez possa admitir que um Laissez faire, laissez passer! dito por uma criança francesa à sua mamã não envergonhe ninguém. E conforta-me saber que terei sempre Paris.
Ninguém gosta de fitas, caprichos, comportamentos exacerbados. Nos outros, claro. Respira-se fundo, conta-se até dez, argumenta-se, depois ameaça-se e, finalmente, castiga-se.
– Ignore! Tenha paciência! – Errado. Porque ninguém ignora; finge que ignora. Finge, impacientemente, que tem toda a paciência do mundo. Porque para a criança aprender a lidar com as suas frustrações, os pais têm de engolir as suas verdadeiras reações. Porque as crianças aprendem com o exemplo dos pais que, convenhamos, são exemplares quando fazem de conta. São dos melhores artistas que tenho observado.
No meu caso estou a iniciar carreira como cantora. Nunca me deu para cantar a meio de uma discussão. Só que as birras dão mesmo cabo da sanidade mental dos pais. Por isso, dei comigo a desatar a cantar, um destes dias, quando a minha filha se atirou para o chão porque não a deixei comer um parafuso. A um prego eu até poderia ter olhado para o lado mas o parafuso soltou-me as cordas vocais.
Birras são como vilãs / Tombos indiscretos no alcatrão sujo / Rasgando os nervos das mamãs / Deitados nas Birras, alheios a tudo / Olhos lacrimejantes / Pensamentos danados.
É mauzinho mas é sincero. E funcionou pois a miúda ficou sem pio. Penso que, instintivamente, sentiu que era melhor ter cuidado comigo. Percebo-a, há dias em que penso o mesmo sobre a minha pessoa.
Quanto a ela, gosto de pensar que a miúda é expressiva. Que manifesta um forte desejo de independência em construção. Quer trocar a fralda em pé, que estando empapada em cocó, me facilita imenso a vida. Quer comer com as mãos, o que não me incomodava se não fosse puré. Não quer pôr o cinto de segurança, eu obrigo e ela tira as alças assim que arranco. Quer sempre mais uma colher de xarope e, se a deixasse, auto-medicava-se desde os 2 anos. Ah! E quer pintar as paredes, que são minhas, com os lápis de cera, que são dela. A pro-atividade impera nas crianças.
Honestamente, invejo-a. E que caiam os dentes a quem negar esta evidência: todos os adultos mentalmente saudáveis, pais ou não, invejam as birras infantis. Porque também eles, em crianças, foram lesados nas suas vontades e impedidos de reclamar, ripostar, reagir.
E como se não bastasse terem sido obrigados a desistir dos seus caprichos de infância, ainda lhes é exigido que se comportem como adultos todos os dias do resto da sua vida! Uma crueldade. Felizmente, existem os batoteiros. Que são a maioria.
Para manterem a sanidade mental, adultos e crianças, têm mesmo de despejar as vontades contrariadas. Assim, a única solução que encontro é arranjar um birrão. É como ir pôr o lixo, à noite, na rua. Todos os dias temos de o fazer, atar o saco, carregá-lo e depositá-lo no lixão. Porque se acumularmos muitas birras ficamos nauseabundos. Limpeza é sobrevivência.
Deixemos pois as crianças fazerem as suas birras. Mas à noite, na rotina do soninho, depois de lavarem os dentes devemos ensiná-las a irem pôr as birras no birrão.
Já escrevi ao Pai Natal a pedir um birrão cá para casa, tamanho familiar. Estou em pulgas.
Por Sofia Anjos, aqui.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
[vozes brancas*] a descoberta do sexo
Há dias, na consulta de rotina de uma menina de dois anos e meio, já na reta final, depois do anúncio dos percentis, depois do meu parecer sobre o excelente desenvolvimento psicomotor da menina e depois de termos abordado, a pedido dos pais, temas tão díspares como o treino do bacio e a prevenção da toxicodependência (true story...), faço a derradeira pergunta: "E têm mais alguma preocupação com ela?" Ao que a mãe faz a pergunta que decerto lhe queimava a língua:
- Doutora, é normal que ela já se aperceba com esta idade da anatomia dos pais?
- Claro, a descoberta do sexo começa agora, fica mais consolidada aos três anos, mas começa mais cedo. Até antes.
- É que no outro dia ela foi espreitar o pai a fazer chichi na sanita. Não achámos mal nenhum porque ela tem de aprender e anda interessada no treino da fralda, portanto achámos que era um bom exemplo a dar. Mas umas horas depois dei com ela a rir sozinha às gargalhadas. Até me assustei, confesso. Ela ria-se do nada e até me dava ideia de que não estava bem. Mas depois perguntei-lhe: "Filha, de que é que te estás a rir?" E ela respondeu-me, divertidíssima, e assim um bocado a cochichar: "Mãe, o pai tem uma cauda!"
* Voz branca - Timbre da voz de uma criança antes da puberdade...
- Doutora, é normal que ela já se aperceba com esta idade da anatomia dos pais?
- Claro, a descoberta do sexo começa agora, fica mais consolidada aos três anos, mas começa mais cedo. Até antes.
- É que no outro dia ela foi espreitar o pai a fazer chichi na sanita. Não achámos mal nenhum porque ela tem de aprender e anda interessada no treino da fralda, portanto achámos que era um bom exemplo a dar. Mas umas horas depois dei com ela a rir sozinha às gargalhadas. Até me assustei, confesso. Ela ria-se do nada e até me dava ideia de que não estava bem. Mas depois perguntei-lhe: "Filha, de que é que te estás a rir?" E ela respondeu-me, divertidíssima, e assim um bocado a cochichar: "Mãe, o pai tem uma cauda!"
* Voz branca - Timbre da voz de uma criança antes da puberdade...
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
[músicas para o baby-de-mulata] let the season begin
Que comecem as festas! E que, com este pretexto, as mais belas canções de embalar de Natal voltem ao leito do baby-de-mulata e à hora do adormecer que é só nossa...
[músicas para o baby-de-mulata] dá-me uma gotinha de água...
Nestes dias temos cantado Cantares Alentejanos dia e noite. Como este aqui acima e como o "Olha o Passarinho", ou o "Eu tinha Quatro Patinhos", que já partilhei aqui convosco. Foi um excelente timing, o da elevação do Cante Alentejano a Património da Humanidade. Mais uns dias e já não teria o mesmo tempo de antena, digo eu. Antes que comecem os cânticos de Natal, cantemos Alentejo!
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