domingo, 26 de outubro de 2014

[vozes brancas] neologismos

Há duas semanas tive um acidente feio: ao chegar ao jardim de infância do baby, naquele local em que costumo fazer com ele a transição simbólica do modo "casa/ mãe", em que pode ser bebé, para o modo "escola/ educadora", que que tem de ser um menino crescido, escorreguei e caí com ele ao colo.

Foi um momento terrível quando percebi que ele ia bater com a cabeça no chão empedrado do pátio... Felizmente foi um traumatismo craniano sem gravidade para o lado dele, embora só o tenha deixado depois com mil recomendações à educadora e auxiliar de que se vomitasse ou ficasse mais estranho e sonolento me ligassem de imediato. Já para o meu lado a coisa correu menos bem, porque ao tentar colocar-me debaixo dele para lhe amparar a queda, o esbardalhanço foi total e torci o pé à grande e à francesa. Quase me saiu disparado e bem articulado um palavrão francês, mas já que não podia fazer nada para remediar o assunto, também de nada adiantava praguejar, por isso calei-me, abracei o baby e cobri-o de beijos, enquanto disfarçadamente lhe fazia um apressado exame neurológico.

No meio destas semanas todas fui assobiando para o ar e fazendo vida normal. O problema é que enquanto se assobia para o ar, o pé fragilizado torce mais cinquenta vezes. Por isso, em vez de melhorar fui sempre piorando, até que ontem, no Badoca Park, onde fiz questão de ir em mais um exercício africano (o baby há de querer ir comigo na minha próxima missão a Moçambique, ou eu não me chame beijo-de-mulata!), torci o pé de vez enquanto andava num caminho tipo picada africana com o baby ao colo, tentando chamar-lhe a atenção para o divertido comportamento dos macacos mais jovens

Por fim, hoje lá me tive de render à evidência. E às canadianas. E ao gelo, ao Voltaren e ao Brufen de 8/8 horas certinho.

Há pouco, D. baby-de-mulata, já deitado para a sesta, perguntou-me se podíamos ir a um concerto depois da sesta.
- Oh, filho, vai ser difícil, que a mãe mal consegue andar.
- Mas eu vou, pronto! Posso ir sozinho! E tu, se quiseres, pegas nessas cruzetas* e vais comigo!
- Quais cruzetas, baby?
- Essas... coisas... - apontando para as canadianas.
- Ah, vou de canadianas, está bem, combinado!

Três anos e já ameaça que deixa a senhora sua mãe literalmente pendurada! Isto promete!

*Cabides, no dizer do povo da Beira Alta, terra da senhora minha mãe, que cuida do baby na minha ausência.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

[vozes brancas] eu sempre disse que o baby era místico!


Mística infantil...

Esta semana, enquanto eu não chegava do hospital, a minha mãe foi buscar o baby à escola e levou-o ao Jardim da Estrela para se divertir no escorrega e nos baloiços e, quiçá, treinar as suas competências sociais com os companheiros de ocasião.

Por fim, eram horas de seguir para casa, mas perguntou à minha mãe, se não queria ir primeiro ao convento das irmãs Clarissas:
- Avó, tu disseste que te esqueceste lá dos teus óculos no domingo.
- Ah, é verdade, obrigada, meu querido, vamos lá.

(Um primor de responsabilidade, este meu baby! Por enquanto só ainda sabe o seu horário da escola e já consegue organizar o material de véspera. Mas conto, quando ele fizer quatro anos, alcançar o meu objetivo, que é deixar de precisar de agenda assim que ele aprenda a orientar-se num calendário, que o Alzheimer se aproxima a passos largos e sinto que vou precisar de um assistente a breve trecho. Já o estou a ver: "No próximo domingo vamos ao teatro, no sábado temos o batismo da Teresinha, na quinta-feira estás de banco.")

Por fim, já a caminho de casa, o baby perguntou à minha mãe:
- Mas avó, explica-me, qual delas é a tua irmã? É a da parede, não é?* Ou é a verdadeira**?

Eu sempre disse que o baby era místico! Desde o dia em que olhou para uma imagem de Nossa Senhora com o menino e exclamou, embevecido: "Mamã!"

Lá no convento das Clarissas olhou para o quadro de Santa Clara, descobriu semelhanças, sentiu a força do seu olhar de vários séculos e viu na santa uma irmã da senhora sua avó. Bem, há mais alternativas, eu sei: ou é místico ou isto aconteceu porque tem três anos e ainda tem dificuldade em distinguir a realidade da fantasia... Mas o tempo há de dar-me razão!

* Há um quadro enorme de Santa Clara na parede à entrada do convento.
** A madre superiora, que os recebeu em carne e osso.

sábado, 18 de outubro de 2014

[outras imagens] humor e a arte da elevação

Vão lá, meus amigos!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

[outras palavras] welcome to holland




 
Holanda...

Sobre o choque e a necessidade de aceitação de um filho com autismo ou outro tipo de deficiência... Roubado do blogue "Para falar são precisos dois".

Ter um bebé é como planear uma fabulosa viagem de férias - para a Itália! Você compra montes de guias, faz planos maravilhosos. O Coliseu. O David de Michelangelo. As gôndolas de Veneza. Você pode aprender algumas frases simples em italiano. É tudo muito excitante.  

Após meses de antecipação, finalmente chega o grande dia. Você arruma as suas malas e embarca. Algumas horas depois aterra. O comissário de bordo chega e diz: - "Bem vindo à HOLANDA !" 
"HOLANDA!?! " diz você - "O que quer dizer com Holanda?? Eu escolhi a Itália! Eu devia ter chegado à Itália. Toda minha vida eu sonhei em conhecer a Itália". 


Mas houve uma mudança no plano de vôo. Eles aterraram na Holanda e é lá que você deve ficar. 
A coisa mais importante é que eles não te levaram a um lugar horrível, desagradável, cheio de pestilência, fome e doença. É apenas um lugar diferente. Logo, você deve sair e comprar novos guias. Deve aprender uma nova linguagem. E você irá encontrar todo um novo grupo de pessoas que nunca encontrou antes. É apenas um lugar diferente. É mais baixo e menos ensolarado que a Itália. Mas, após alguns minutos, você pode respirar fundo e olhar ao redor... e começar a notar que a Holanda tem moinhos de vento, tulipas e até Rembrandts e Van Goghs. 


Mas, todos que você conhece estão ocupados indo e vindo da Itália... e estão sempre comentando sobre o tempo maravilhoso que passaram lá. E por toda a sua vida você dirá : "Sim, lá era onde eu deveria estar. Era tudo o que eu tinha planeado." E a dor que isso causa nunca, nunca irá embora... porque a perda desse sonho é uma perda extremamente significativa. 


Porém... se você passar a sua vida toda remoendo o fato de não ter chegado à Itália, nunca estará livre para apreciar as coisas belas e muito especiais... sobre a Holanda.  


Emily Perl Knisley

domingo, 12 de outubro de 2014

[post que era para ser só um comentário] ainda as listas dos criminosos sexuais contra crianças

Obrigada por voltares, Rita! É um post brilhante e com uma excelente argumentação. Só queria acrescentar alguns pontos... Eu concordo inteiramente contigo quanto ao facto de ser descabido publicar listas do que quer que seja. Tu já argumentaste magistralmente contra esse ponto. Mas a meu ver há um problema na definição de conceitos.

Quem não é psiquiatra nem trabalha em saúde mental, pode não ter noção que por detrás da palavra "pedófilo" podem estar conceitos muito distintos.
Segundo o DSM, o manual/ "catálogo" de doenças mentais, o termo "pedofilia" é isso mesmo que descreves: uma orientação sexual. Uma atração preferencial por crianças pré-púberes, antes da adolescência. Também diz que essa atração é egossintónica, ou seja, a pessoa muitas vezes não se sentem mal com isso, tal não as impede de funcionar normalmente em todos os outros aspetos da sua vida em sociedade e não cria dificuldades inter e intrapessoais significativas. Como tal, um pedófilo assim descrito não procura ajuda. Já daqui vem uma dificuldade. Por vezes passam ao ato com crianças que estão ao seu alcance (dentro e fora de casa).

Mas ocasionalmente, essas pessoas interiorizam que este ato é condenado pela sociedade, podem refletir sobre isso e, sobretudo depois de terem sido condenadas por um abuso que cometeram, podem entrar em tratamento e, até certo ponto, controlar o seu impulso. Nesses talvez valha a pena investir.
A verdadeira questão é que, em criminologia em geral, e segundo a lei portuguesa em particular, os crimes de pedofilia são quaisquer crimes sexuais cometidos contra crianças ou adolescentes, pré-púberes ou não. Dentro da categoria "pedófilo" estão criminosos sexuais em geral, que cometem crimes contra qualquer pessoa e, "por acidente", também contra crianças, e psicopatas cuja escolha de crianças lhes aumenta o prazer por se tratar de alguém com menor poder e menor capacidade de reação. São sobretudo estes que passam ao ato. São quase só estes que são condenados. São quase só estes que aparecerão nas listas. Listas estas que condeno, por todas as razões que tu argumentas. Menos as que dizem que os pedófilos são tratáveis. Porque muitas vezes não são.

Os tais pedófilos de que falas, os que cumprem os critérios do DSM, sobretudo os que cometem abusos dentro das próprias famílias, quase nunca são condenados. Por mais diferenciadas que sejam as mães e os outros encarregados de educação, quase nunca têm coragem de levar o processo adiante até à condenação porque não querem ver o pai das crianças preso. Porque no fundo quem sofre sempre são as crianças. E ninguém quer que o seu filho seja apontado como “o filho do pedófilo”.
Ou seja, neste caso (o das listas de criminosos sexuais condenados por crimes contra crianças) pedófilos não são doentes mentais que devem ser ajudados. Neste caso pedófilos são criminosos que, na sua maioria têm perturbações graves da personalidade, na sua maioria psicopatas, e têm compulsão a repetir o ato, mesmo depois de terem sido condenados.

Confesso que por vezes não me apetece ser contra as listas. Sobretudo quando vejo uma criança atrás de outra a ser abusada pela mesma pessoa. E quando pergunto: "Mas esse homem não estava debaixo de olho? Ninguém tinha avisado a mãe que o homem que tinha metido lá em casa era um criminoso sexual?"

E as respostas não são simples. Por vezes a mãe não tinha sido avisada. Por vezes tinha sido avisada e não tinha acreditado na polícia ou na assistente social. Se o perfil dos criminosos é complexo, o perfil das vítimas é ainda mais intrincado...

O que eu sei é que por vezes vejo crianças, vítimas durante anos de violência (sexual ou não), completamente destruídas por dentro na sua autoestima e integridade psicológica, por pessoas, supostamente cuidadoras, fossem pais, padrastos, tutores, padrinhos e que, a muito custo, as mães lá se organizaram para se livrarem deles. E, meses ou anos depois, pergunto às mães: "Onde está esse homem?" E elas respondem: "Tem uma nova família."
E eu arrepio-me. Quase que poderia ser a favor das listas, não fossem elas atentados contra os direitos humanos e o direito à privacidade. Não fossem elas prejudicar ainda mais as famílias deles, já de si devastadas. Não fossem elas ineficazes. Mas acho que se deveria preparar melhor as equipas que estão no terreno, articular melhor com os serviços de saúde mental, com as associações de apoio à vítima. Deveria haver um mecanismo previsto na lei que se poderia aplicar em caso de reincidência ou comprovada compulsão a repetir para manter os criminosos debaixo de olho a longo prazo depois de terem sido condenados. Isto sim era responsabilizar o estado e não criar alarme na comunidade. Isto sim seria descansar a comunidade e não criar uma comunidade em alerta permanente.


Obrigada mais uma vez, Rita, por voltares.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

[vozes brancas] entre o riso e o espanto!

Adorei...

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