terça-feira, 26 de novembro de 2013

[nomes que dizem tudo] a escola toda...

Há dias, na consulta, vi de um adolescente de 14 anos, rufia até à ponta das orelhas, piercings no sobrolho franzido, desejo de meter mais uns 20 piercings em qualquer superfície do corpo onde fosse humanamente possível esboçar uma prega ("tivesse-eu-dinheiro-e-iam-ver-se-não-punha,-mas-a-minha-mãe-não-me-dá-dinheiro-nem-sequer-para-comer"), cara de "estou-farto-de-apanhar-secas-destas-mas-por-que-é-que-não-me-deixam-curtir-a-minha-vida-em-paz", furibundo por estar ali. Nem levantava os olhos, não me encarava de frente, que eu era certamente uma aliada daquela megera que lhe coubera em sorte como progenitora.

No meio daquela tensão enorme perguntei ao miúdo:
- Se calhar estás a ser um pouco exagerado. A tua mãe dá-te de certeza dinheiro para comeres na escola!
- Não dá, não! - acusou-a de imediato.
- Sim, doutora, ele começou a fumar e no ano passado usava o dinheiro que eu lhe dava para comprar tabaco. Agora não posso confiar nele, não lhe dou dinheiro nenhum!
- Mas isso foi no ano passado, eu agora já não fumo!
- Mas olhe que ele precisa de ter alguma rédea, para poder gerir e mostrar à mãe que está a fazer um esforço para se organizar.
- Pois, mas também está de castigo porque só falta às aulas. Naquela escola ninguém controla nada! Se ele falta às aulas e se começa a drogar ninguém dá por nada!
- Ele mudou de escola, não foi? Em que escola é que ele está agora?
- Na escola Coca Maravilhas...

...

...

- Escola quê?
- Coca Maravilhas!

(A mãe tinha medo que ele se começasse a drogar na escola Coca Maravilhas? Bem, quem era eu para lhe conseguir assegurar o contrário? Eu não ponho as minhas mãos no fogo, que deve ser difícil fugir a mensagens subliminares!)

Mas lá mandei a mãe sair para falar a sós com o miúdo...

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

[vozes brancas] coração de mãe



Na turma de Mr. B., o meu sobrinho de 5 anos, a educadora pediu-lhes para fazerem um coração em pasta de modelar para emoldurarem e oferecerem aos pais por ocasião de uma das incontáveis festas, solenidades, dias especiais, comemorações-por-ocasião-do-dia-mundial-do-papel-de-parede-e-afins que pontuam o calendário do ensino pré-escolar. E Mr. B. ditou à educadora a dedicatória para escrever na moldura: "O meu coração é leve e cheio de palhaçadas!" E eu fiquei a pensar onde foi que este menino foi buscar tanta poesia...

domingo, 10 de novembro de 2013

[outras palavras] memórias de um átomo

O Livro do Ega! Fora em Coimbra, nos dois últimos anos, que ele começara a falar do seu livro, contando o plano, soltando títulos de capítulos, citando pelos cafés frases de grande sonoridade. E entre os amigos do Ega discutia-se já o livro do Ega como devendo iniciar, pela forma e pela ideia, uma evolução literária. Em Lisboa (onde ele vinha passar as ferias e dava ceias no Silva) o livro fora anunciado como um acontecimento. Bacharéis, contemporâneos ou seus condiscípulos, tinham levado de Coimbra, espalhado pelas províncias e pelas ilhas a fama do livro do Ega. Já de qualquer modo essa notícia chegara ao Brasil... E sentindo esta ansiosa expectativa em torno do seu livro - o Ega decidira-se enfim a escrevê-lo.

in Os Maias, de Eça de Queiroz

Tenho um livro por escrever... De cada vez que alguém me pergunta por ele, lembro-me sempre do Átomo do Ega. Já tenho ilustradora, compradores potenciais, editora e local de lançamento... Só ainda não o escrevi. Alguém consegue imaginar pior desgraça?

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

[a força que um sorriso pode ter!] viver a diferença...

 
Peyton McCubbin é uma menina com esquizocefalia (uma doença semelhante à paralisia cerebral), a quem os pais todos os anos, constroem fantasias impressionantes em torno da sua cadeira de rodas para a festa do Halloween... este ano a menina desfilou como princesa Leia na sua nave espacial, acompanhada pelo seu orgulhoso irmão, "Luke". Amar um filho com todas as suas diferenças e limitações é isto. Agradecer porque há meninos que nos unem também! Daqui.