terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

[in god we trust] everyone else must bring evidence!

José Diogo Quintela escreveu há tempos um texto genial sobre homeopatia. Andei à procura dele para partilhar convosco. Daqui.
Tenho a casa transformada em enfermaria. Neste momento, estão internados cinco Nenucos, três Barbies (tecnicamente, uma delas é Barbie-Sereia) e um Action Man. Padecem de gripe.
A minha filha é muito atenciosa com os pacientes. Está a levar a sua função terapêutica muito a sério. A minha mulher está convencida de que a miúda vai ser médica. A mim, pela maneira como ela trata as bonecas, dá-me mais a sensação que ela vai ser homeopata. É que os remédios que ela receita são colheradas de ar e pingos de água aplicados a partir de um biberon de brincar.
Como pai preocupado com o futuro, é óbvio que estou contente. A homeopatia não é tão prestigiante quanto a medicina, mas dá mais dinheiro. E o curso é mais fácil. Só é preciso aprender a medir porções, diluí-las e sacudi-las num recipiente. No fundo, é um curso de barman em que só se usa água. Aliás, qualquer pessoa que já teve preguiça de ir à despensa buscar uma embalagem de champô nova, preferindo antes encher de água e abanar a embalagem vazia de modo a recolher refugo de champô com que lavar a cabeça, é um homeopata em potência.
Todos os dias ouço um anúncio na rádio a recomendar que faça a prevenção da gripe com o Oscillococcinum, um produto homeopático. Ora, eu não sou cientista. Logo, tenho toda a qualificação necessária para me pronunciar sobre homeopatia. E diria que a prevenção da gripe com pílulas de açúcar só funciona se o vírus influenza estiver a fazer a dieta do Paleolítico. Sem ser para evitar os hidratos de carbono, não estou a ver outra razão que levasse um vírus a não querer instalar-se em alguém só porque toma pílulas de açúcar. A empresa que o vende garante que não tem efeitos secundários. Aí já estamos de acordo. É natural que não tenha, porque para ter um efeito secundário seria necessário que tivesse, anteriormente, um efeito primário.
No entanto, a bem da verdade, tenho de reconhecer que o Oscillococcinum não é apenas açúcar. O seu ingrediente fantástico (no sentido de “estupendo” para os homeopatas; no sentido de “fictício” para as restantes pessoas) é um extracto de miudezas de pato, o que faz do Oscillococcinum uma sugestão de canja muito cara. Quando alguém toma um comprimido, há um círculo que se completa: o que começou com um pato termina num pato. Não consigo imaginar melhor definição de “holístico”.
Os homeopatas garantem que depois das 200 diluições do extracto de pato, a água retém a memória de uma molécula do ingrediente original. Até agora, não se conseguiu provar que a água tenha memória. A existir, a memória da água é igualzinha à memória do vinho: quando o bebo, no dia seguinte também não me lembro de nada.
Atenção, o meu cepticismo não é dogmático. Mudo de opinião quando me mostrarem provas irrefutáveis. E a verdade é que fui agora ao quarto da minha filha e as doentes estavam todas perfiladas para uma aula de zumba. Tudo com ar bem-disposto. Tirando o Action Man.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

[and now for something different] sarampo, sarampelo...

Lido por aí... Sobre o ressurgimento do sarampo e do surto originado na Disneyland da Califórnia.


Numa sociedade cada vez mais desigual, surgem estes pequenos sinais de igualdade: hoje em dia, para apanhar uma doença erradicada, já não viajamos para uma zona miserável de África, vamos para um dos condados mais opulentos dos Estados Unidos.
Claro que continua a haver diferenças. No terceiro mundo, os ratos transmitem doenças às pessoas. Nos países desenvolvidos, as pessoas é que contagiam os ratos. Na Disneylândia, só desde Dezembro, já infectaram 7 Mickeys, 4 Ratatouilles e um Fievel.
Este ressurgimento do sarampo sucede porque o movimento antivacinas garante que há uma ligação entre vacinação e autismo. E é capaz que seja verdade. Ouvindo as pessoas que se recusam a vacinar os filhos, nota-se o discurso repetitivo, a incapacidade de comunicar e as dificuldades de aprendizagem típicas do autismo.
Mas é possível convencer os fanáticos antivacinas. A minha filha é ideologicamente contra as vacinas — começa a chorar sempre que estamos no mesmo código postal do Centro de Saúde — mas é aberta à razão. Principalmente se a razão for de chocolate e derreter.


Por José Diogo Quintela, aqui

[reduzir, reutilizar, reciclar] exercícios ecológicos

Ontem, o baby-de-mulata mais uma vez foi comigo e com Mr. Shaka, seu papá, ao ecoponto mais próximo levar o lixo reciclável. Para ele, tudo o que envolva sair de casa e ajudar os seus papás a fazer coisas de crescidos é um programão! E, claro, é sempre uma atividade pedagógica que promove o conhecimento dos materiais de utilização corrente  ("isto é papel, isto é vidro, isto é plástico"). E a minha convicção pessoal é que em matéria de ambiente, educação para a cidadania e resíduos sólidos urbanos nunca é cedo demais para começar!


E lá íamos nós:
- E como se chama um caixote do lixo para colocar... vidro?
- É um vidrão.
- Que lindo, baby, tu sabes muitas coisas! E um caixote do lixo para pôr papel?
- É um papelão.
- E um caixote do lixo para pôr embalagens?
- É um embalão.


E foi então que a coisa começou a descambar...
- E um caixote do lixo para pôr colchas?
- ... É um colchão! [Um sorriso e depois uma gargalhada de quem percebeu o trocadilho...]


- E um caixote do lixo para pôr... trambolhos?
- É um t'ambolhão! Ahahaha!


- E um caixote do lixo para pôr... Carrilhos?
- É um carrilhão!


- E um caixote do lixo para pôr... túbaros?
- É um tubarão! Ahahaha!


- E um caixote do lixo para pôr caixas?
- É um caixão!


- E um caixote do lixo para pôr... calças?
- É um calção!


- E um caixote do lixo para pôr boias?
- É um boião!


- E um caixote do lixo para pôr... diversos?
- É uma diversão! - ...um ar confuso... - Pois é, mãe?


- Sim, meu amor! E um caixote do lixo para pôr confusos?
- É uma confusão! Ahahaha!


- E um caixote do lixo para pôr fogos?
- É um fogão!


- E um caixote do lixo para pôr... solteiras?
- É um solteirão! [Esta ele não percebeu, mas pode ser que se vá entranhando...]


O baby ria, nós desfazíamo-nos à gargalhada com ele, e eu fiquei mesmo feliz porque o meu menino já consegue manipular sílabas, derivar palavras e ainda por cima tem sentido de humor e consciência fonológica. Mais um passo para o conhecimento metalinguístico e preparar a leitura e escrita. Também para isso nunca é cedo demais...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

[as melhores do serviço de urgência] prémio "fia-te na virgem e não corras"!

E o primeiro candidato ao Grande Prémio "Fia-te-na-Virgem-e-Não-Corras" 2015 chegou ao serviço de urgência do meu hospital na semana passada!


Ora pois que o episódio se inicia estava eu, pacatamente, no gripódromo em que se transformou o serviço de urgência nas últimas semanas (metade do país está de cama e a outra metade ou já esteve ou vai ficar), que é como quem diz, no ram-ram do "Boa noite, então o que se passa com @ menin@", assim mesmo mas sem o @, que parecendo que não, é difícil de articular com clareza. Ao que os pais respondiam invariavelmente com o "Febre-tosse-e-ranho-desde-há-três-dias,-mas-é-só-por-descargo-de-consciência-que-se-não-fosse-o-terceiro-dia-nem-vinha-aqui-que-eu-nem-sou-muito-de-vir-às-urgências-mas-é-que-lá-da-creche-pedem-o-papel-do-médico-e-pronto". E lá continuava eu, com a preocupação de, no meio dos cinquenta que tinham gripe, não deixar escapar aqueles 1,2 meninos que tinham pneumonia ou o 0,3 que tinha meningite*.


Eis senão quando, no ecrã me aparece um menino classificado como laranja. Prioridade quase máxima. Num relance reconheço o nome: é o filho de uma colega minha. Teve uma convulsão com febre em casa e ainda está sonolento. Sonolento mas mais lento do que com sono, felizmente, sinal de que estava a recuperar.


A minha colega vinha pálida, impaciente, exaltada como nunca a tinha visto. Não era para menos, que uma convulsão num filho é coisa para assustar o mais experiente dos médicos, mas acabou por me explicar o motivo da enervação:


- O Rafael estava ao meu colo, muito murchito. Chamei a empregada e pedi-lhe um Ben-U-ron porque me parecia que a febre estava a querer subir e foi então começou a convulsar.
- E depois o que fizeste?
- Chamei a empregada outra vez e ela lá veio espavorida. Pedi-lhe outra vez o Ben-U-ron e toalhas molhadas, mas ela só se agarrava a mim e dizia: "Ai reze, menina, reze!" E eu respondia, "Eu rezo, Maria, eu rezo, mas vá-me lá buscar umas toalhas molhadas e um Ben-U-ron". Ela desapareceu para a cozinha, mas só quando voltou com uma velinha acesa e sem as toalhas é que percebi que tinha se ser eu a fazer tudo. Deixei-o no chão em posição de segurança e fui eu própria buscar tudo e ligar para o INEM.
- E no meio disso tudo, ele já tinha parado?
- Sim, graças a Deus, não deve ter durado mais do que dois minutos, mas a Maria só dizia que tinha sido da velinha ao Santo António. "Ai, menina, palavra como não sei como é que me saíram as palavras do responso! Fiquei tão nervosa!" Só me apetecia esganá-la.


Entretanto eu já tinha completado a observação, que era normal, e o Rafael aninhava-se, bem disposto, ao colo da mãe.


- Margarida, ri-te que agora já podes, o menino está ótimo! Tem calma, que não foi nada.




* Valor estatístico meramente especulativo, ok? Não me citem em nenhum trabalho científico, por amor de santa Escolástica.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

[alhos e blogalhos] habemus vencedoras!*

Para o prémio do visitante 500.000 [está mesmo, mesmo ali abaixo, minha gente, mas para que querem o link, valha-me Nossa Senhora, tenho mesmo de fazer tudo nesta casa?] tivemos duas vencedoras, a Rita Oliveira e a Adriana Afonso (esta última por acaso fez anos ontem, pelo que seguem igualmente os correspondentes votos de parabéns atrasados!). Peço a ambas que me enviem a morada por mail para poder cumprir o prometido e enviar um exemplar autografado do livro "A Missão".

E perguntam vocês, ou só os mais atentos, quiçá: DUAS vencedoras? Como assim duas? Não era suposto haver apenas um visitante 500.000? E se calhar até foram mais, mas só duas se acusaram...

Pois que não é situação inédita. Não há fome que não dê em fartura, diz o povo e diz o site meter. Uma vez vi a mesma situação já não sei em que blogue (penso que n'O Arrumadinho) precisamente com o visitante 500.000, mas dessa feita o autor só tinha um prémio para oferecer e foi complicado decidir qual das visitantes 500.000 que se acusou era de facto a verdadeira, se é que tal existe, neste mundo virtual, em que tudo acontece ao mesmo tempo... Mas neste caso não faz diferença, vizinha, ora essa, por quem é, que onde se manda um também se manda dois, é só pôr mais água na sopa, que é como quem diz, mais um selo nos correios e está o assunto arrumado. Obrigada sou eu por passarem por aqui tantas vezes, que nem uma merecia a pena.

(A propósito, por acaso agora lembrei-me da blogger que em tempos pediu ao visitante 50.000 que se acusasse e ele não só se acusou como se casou com ela tempos depois! Ao que parece um casamento feliz e frutuoso, que o meu querido Santo António do Google não brinca em serviço!)

Para os que não ganharam, desejo melhor sorte para o prémio do visitante 1.000.000! Muito obrigada por estarem desse lado e andarem por aí, alguns desde há quase cinco anos, e que sorriem comigo desde então.

* Tive de ir ver a declinação do acusativo à Wikipedia, que nunca estudei latim na vida...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

[algos e blogalhos] o visitante 500.000 que se acuse!

Ora pois que estamos a chegar aos 500.000 visitantes, pelo que resolvi, qual blogger de sucesso, oferecer um exemplar autografado do meu livro "A Missão" ao visitante que provar ser o 500.000! Ora 1, 2, 3, partida, lagarta, fugida!

domingo, 1 de fevereiro de 2015

[vozes brancas] das ciências da vida

Conversas no carro de uma amiga minha, colega da faculdade e uma bem disposta mãe de três filhos. Desta feita, a conversa era sobre o currículo escolar e a introdução ao estudo das ciências, que atualmente está num nível de exigência tal, que para se atingir o volume de conhecimentos que o atual ministro da educação implementou, tem de se começar pelo menos na barriga da mãe. Mas de preferência três gerações antes...


Filha nº 3, chamemos-lhe Mariana, com 4 anos acabados de completar: Mãe, hoje aprendi que há seres vivos e seres mortos...
Filho nº 2 (chamemos-lhe Dinis), de 6 anos: Hahaha! Não são seres mortos são seres inanimados....
Mariana: Não, Dinis, não estou a falar dos bonecos inimados, estou a falar das pedras e das casas....
Dinis: Não, Mariana, esses são os bonecos animados... Mas também não têm vida. Mas, olha, então uma planta é um ser quê?
Mariana: É um ser vivo... porque cresce...
Dinis: Bem, isso depende....
Filho nº1 (chamemos-lhe Miguel): Como é que depende? Estás maluco?
Dinis: É que se forem as plantas da mãe, são seres mortos! Eheh, ela nunca trata delas!
Mariana: Vês? Afinal são mesmo seres mortos... eu sabia!


Moral da história: Por mais voltas que se dê, quem sai sempre mal no figurino é a mãe!