quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

[outras palavras] somos nós...

Acabei de ler isto. Fiquei arrepiada...


"Sou médica interna. Sou médica daquelas que demoram muito. Não entupo urgências, porque não trabalho lá, mas deve estar muita gente à minha espera, na sala onde se espera. De certeza que pensam que sou “estagiária”. Não tenho carro, vivo numa casa alugada, pago as contas (às vezes em atraso). Trabalho, estudo, vivo em constante preocupação porque tenho que estudar mais, tenho de fazer relatórios e posters e apresentações. Vivo entre exames, artigos científicos e isso sim, trabalho, muito trabalho. Ao meu lado estão outros médicos internos. Raramente adoecem.. estão lá, ganham o mesmo que eu. Estou motivada, mas menos motivada, estou lá, mas às vezes penso que devia estar noutro sítio. Às vezes chego ao fim do mês à justa. No talão diz 1800… acho…, mas chega bastante menos à conta na CGD. Não sou especialmente ambiciosa. Nem especialmente poupadora nem gastadora. Compro roupa na Zara e móveis no IKEA (dos baratos). Tenho o apartamento alugado meio vazio, mas não faz mal porque passo lá pouco tempo. Tenho uma secretária de 1,50m de largura no trabalho, que está sempre muito cheia. Tenho o novo corretor ortográfico no computador, mas irrita-me. Vou à pagina da Ryanair quando estou pensar em férias. Mas cada vez penso menos. Não tenho animais de estimação, mas gosto de animais de estimação. De manhã acordo mais tarde do que devia, mas chego a horas ao trabalho. Vou a pé, porque vivo na baixa (isso deve ser um luxo). Estou inscrita num ginásio ao qual raramente consigo ir. Cada vez que abro o facebook vejo salários de políticos aos quais não sei atribuir significado. Depois vejo salários de médicos que não conheço. Às vezes leio os comentários das pessoas revoltadas com o que ganham os médicos, com o bem que vivem. Eu devo ser da classe privilegiada, porque sou médica. Não tenho carro, não tenho casa própria, não tenho um iphone, porque me parece excessivamente caro. Ganho 1200 euros. Tenho 30 anos. Matei-me a estudar na faculdade, tenho o trabalho em dia, mas não sou lá muito inteligente porque me esqueci de pagar a conta da EDP. Na sexta-feira cheguei às 21:00 a casa (devia ter saído às 18:00) e tinham-me cortado a luz. Tenho de me organizar melhor. Na televisão não falam dos sacrifícios, não dizem que fiquei horas a mais a fazer o trabalho que estava a menos, porque sou lenta talvez… Deve ser isso. Não fui para a night porque estava esgotada. Dormir é uma das minhas grandes prioridades. Não vou muito ao cinema, nem vou aos eventos culturais de que gostaria. Não viajo muito, nem vou jantar a restaurantes caros. Sou médica… é verdade. Médica interna, jovem inexperiente. Daqueles que entopem urgências e custam muito dinheiro ao estado porque estão em formação… Deve ser melhor para os recém-assistentes que estão à espera do contrato para a semana há um ano… Ao longo do internato que vejo passar… só vejo as coisas piorar. Mas estou muito motivada, amanhã vou trabalhar."

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

[vozes brancas*] acoooorda, mãe!!!

Esta noite antes de recrutar toda a minha capacidade de calma-respira-fundo-olha-para-cima-vai-beber-um-copo-de-água e abraçar, com todo o meu espírito empreendedor, a tarefa hercúlea que é meter D. Baby-de-Mulata na cama, eu estava a brincar com ele, naqueles que são os nossos minutos de paz e tréguas de um dia inteiro de test drive dos limites da senhora sua mãe.


Eu fingia que ressonava após o que ele me gritava "Acoooo'da, mãe!" e eu fingia que apanhava um susto e assim por diante, que uma das vantagens de ser mãe de um baby de dois anos é que podemos fazer a mesma brincadeira sem termos de inventar rigorosamente mais nada durante dias a fio, que ela não perde a piada. Depois de repetir a brincadeira da mesma forma umas trinta vezes, ele de repente grita:


- Alvo'aaaada!
- [Alvorada?!, mas onde é que ele foi buscar esta?] Ããnh? - levanto a cabeça, estupefacta.


Ele olha-me com cara de "Ups, já fiz asneira."


- Alvo'ada... se faz favor...


Vá lá a gente não amar uma criatura assim!


* Timbre da voz das crianças antes da puberdade.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

[vozes brancas*] operações financeiras...

A minha mãe é uma avó extremosa, infinitamente bondosa e paciente, que cuida diariamente de duas criaturas de dois anos (cada uma), sendo uma delas o meu baby-de-mulata e a outra Baby M., o meu sobrinho e afilhado, quase gémeos na idade, completamente gémeos na linguagem (em que se imitam), nos comportamentos (em que se repetem) e nas asneiras (em que se potenciam num "mata-esfola" como só os gémeos conseguem fazer). Esta manhã, estando ela por dois minutos na casa de banho, ouviu-os ir sorrateiramente à sua carteira, abri-la e espalhar as moedas pelo chão.


- É dinheiro - dizia o baby-de-mulata.
- São moedas - acrescentava, Baby M., com propriedade - onde é que a vovó comprou? Numa loja?
- Não sei... Vovó, onde é que a vovó comprou este dinheiro?


Uns génios das finanças, os meus babies! Tão pequeninos e já sabem que o dinheiro se compra, em arrojadas operações financeiras!




* Timbre da voz das crianças antes da puberdade.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

[vozes brancas*] um relógio com segundos


A filha de uma amiga minha, uma rebiteza de três anos de idade, ouvia solidariamente o irmão de seis anos, que resmungava com o relógio porque não estava a conseguir ver as horas!
- Ele anda muito depressa, os números estão sempre a mudar! - queixava-se o irmão.

Ao que ela respondeu com a grande pérola:
- Pois é, mano, tens razão, os relógios com segundos não prestam, porque nunca param para se ver as horas!

* Timbre da voz das crianças antes da puberdade.

domingo, 5 de janeiro de 2014

[músicas para o baby-de-mulata] antes que terminem as festas!



 
Tenho de partilhar convosco a música de Natal preferida do meu baby-de-mulata! Não é um baby com bom gosto?

sábado, 4 de janeiro de 2014

[welcome to mozambique] feliz 2014!

 
Feliz 2014 a todos os meus meninos do coração, que vivem no mato!
A foto é da minha amiga Maria, enfermeira voluntária no Niassa há quase dois anos. Os meninos da missão queriam saber quanto pesava o Natal!
(Mitande, Niassa)